Para começar o ano
Bom dia!
Sou de acordar cedo, um instrumento de escrita que se preze não frequenta reveillons. Mas o mesmo não poderei garantir quanto ao aprendiz meu utilizador, a quem os anos pesam e o juízo se mantem sadiamente pouco. Ei-lo chegando... Eu já direi se foi de tolices a madrugada.
Bastar-me-à ver como me pega. Humm... Vá lá, vá lá... Desenroscou a tampa (Nossa Senhora, o ano começa frio!), e procura o papel onde poisar o bico e escrever...
(Coitado, é-lhe escasso ainda o conhecimento das artes literárias: hesita nas palavras, parece que o léxico o finta e lhe faz caretas. E ele, furioso atrás dos termos, a derrapar, a derrapar, - pronto, mais um borrão de tinta a macular a folha! - três raivosos riscos sobre uma frase que lhe desagradou... E outro rasgão no caderno, mais uma bola amarfanhada para o cesto do lixo. Enfim, sejamos pacientes, só agora principia...)
Enganar-me-ei, porventura, mas a noite foi de repouso. Os dedos seguram-me firme, pena é a sua irremediável falta de jeito. Nisto... e no fumar cachimbo, deixando-o constantemente apagar-se. Lá está, o bico de esguelha, a tinta a não correr - endireita a mão, rapaz! - e o vir atrás, já nervoso, o escrito a sair-lhe contundente, quase um berro, vernáculo em excesso, outra hipótese perdida do dizer com encanto.
Temos mais um ano pela frente. Haja saúde. Por mim, a promessa de tudo fazer para aprimorar esta mula carcomida e desajeitada. Quem o ler depois dirá.
Para todos, um 2021 cheio de novas literárias e uma caligrafia sempre saudável!