Madame javalina
Com os dias deste tamanhinho, onde quer que a gente chegue já é noite. E vinhamos com a recomendação de fechar os portões da propriedade, função que cumpri, não sendo o condutor, como o alívio de uma bela lufada de ar gelado, puríssimo. Depois, estradão fora, umas dezenas de metros adiante, o bicho atravessou-se à frente do carro. Soaram as campaínhas todas, de um salto voltava ao frio, ciente de que nunca disporia de tempo para armar a espingarda. Mas corri, talvez o "apanhasse" à mão... Coisas de bárbaro...
Também Egas, o Terrível, se lançou do drakkar e embrenhou na escuridão, nem por isso muito convicto... Foi quando reparei que o javali apenas trotava, bem fornecido de carnes, pouco cerdoso, não grunhindo nem urrando. Era de estimação. Fui buscar a máquina fotográfica na certeza de que ele esperaria por mim.
Tratava-se de uma porca híbrida, o fruto dos amores ilícitos da pécora, senhora sua mãe, com algum macho selvagem e aventureiro. E, depois do jantar, mais perto de casa se passeou, foçando deliciada nas ervas do terreiro. Talvez sonhando com alguma oferta gentilíssima, um bouquet da mais repolhuda couve... Mas escasseavam por ali as "lojas de conveniência"... Mesmo os cães, sentindo-a mansa, nem ensaiaram a serenata. O nosso respiro solidificava, nem os muitos sóis no firmamento nos valiam. Mais um copito para aquecer... Amanhã seria dia de saltar cedo da cama.
A quantos quilómetros estaríamos da cidade mais próxima? Lá muito ao fundo, as luzes diziam que de Penha Garcia. Deixá-lo. O importante era estarmos bem e em boa companhia. Sem multidões, nem covids nem a necessidade de trincheiras anti-covid.