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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

A vaguear pelos Açores (VIII) - A Montanha (Pico)

João-Afonso Machado, 21.04.21

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O fantasma agitava-se e era visível, sobretudo ao anoitecer, ainda na Horta. Mas chegara o momento de o sentir mais perto, mesmo de tocar nele. Na Madalena, aluguei um carrito e fui por aí fora, nesse intuito. Fatalmente, seguindo o trajecto da Longitudinal.

É claro, não demorou a grande subida. O Pico não tem dimensão para cordilheiras, serras após serras, entre as quais há o cume pujante, a marca maior de altitude. Afinal, a Montanha é essa elevação inconforme, ultrapassando os 1300 metros, a maior em todo o Portugal, um despropósito rodeado pelo oceano.

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Muito no início da escalada, o verde dos pastos, os muretes basálticos e água escorrendo, porque era ainda o tempo dela. Mais para riba, sinais de vida pastoril, a estrada comprimida pelo gado, a moçoila a conduzi-lo...

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Parei no paleio com a rapariga. Se poderia passar.... (Ela desconhecia o Soajo, o Barroso, os cornos do gado de lá, maiores do que as armas dos elefantes...) Porque não queria riscar o carro, mais a mais não era meu...

Que fosse à minha vontade. Somente não buzinasse, para não assustar as vacas... (Equídeos não havia - longe, pois, o risco da parelha de coices na chapa da máquina.) E mais coisa e tal, era aquilo, o pasto e o olhar nos animais, - Faça o Sr. uma boa viagem - Obrigado, minha amiga, até um dia!...

Hão existe no mundo inteiro gente mais afável! Prossegui a subida, espreitando a Montanha, que assim os locais lhe chamam, a essa imensidão

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quase sempre escondida entre as nuvens, outras vezes dando um ar da sua graça, neve plantada em pleno Atlântico, sonho íngreme de pernas de infantaria

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raramente marchando sem barretina. Neste mundo vil de programas e horários, mais não podia ser. Já no balanço para o outro lado do Pico, um derradeiro olhar

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e a cidade da Horta, ali na casa vizinha. Era um rodopio, desses que não sossegam sem mostrar novos ângulos, outras sensações, pequenas notas na vastidão do mar. Quase por maldade..., como se a obrigar-nos a regressar, nunca é demais para nos entranharmos nestas terras, tão pequenas, tão misteriosas e tão profundamente apelativas.