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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

A vaguear pelos Açores (IX) - As Lages do Pico

João-Afonso Machado, 22.04.21

Então a minha vida tornou ao litoral, na direcção nordeste. Era outra vila, outro concelho. O das Lages do Pico.

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Pelas poucas informações obtidas - sou nada de prospectos... - iria dar de chofre com a (por excelência) comunidade baleeira da Ilha. Um pouco de Passado: quanto creio, a caça dos grandes cetáceos foi inovação dos americanos, fortuna do século XIX e aviamento do seguinte. Depois, a razoabilidade deu-lhe fim, que a extinção dos cachalotes ninguém beneficiaria, argumento da Natureza turisticamente muito válido. Quanto creio, as baleias são agora apenas um recreio para os olhos dos visitantes, e a sua caudal o ex-libris do Pico.

É claro, jamais me considerando um passageiro dessa estirpe, sofro sempre da ardência da vista, mesmo porque os meus dias não conseguem parar quietos. Resta o sentir. E o mutismo das Lages do Pico tudo me contaram, a vista das águas e do porto também.

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Aquela absoluta quietude vinha com os ecos dos derradeiros botes. Peles queimadas aos remos, ditos suados por o esforço que ainda falta... A minha mente só haveria de se abrir à imaginação e às leituras. As Lages dormiam sobre a sua eferverscência de antigamente.  Nas almofadas da História... E a tarde podia ser apenas isso. Mas havia de furar ou pouco mais essa ausência de gentes, fortuna minha.

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Assim me dei à vadiagem, ocupação de uns quantos, somente. A inicial descoberta: a ermida de S. Pedro, quatrocentista, dita a primeira na ilha e com nome grafado pelo seu primeiro pároco, Pedro Guerreiro (sem dúvida um algarvio), que trouxe consigo as vides dos primórdios do verdelho de aqui.

Coleccionei, nas lojas de artesanato, peças esculpidas em ossos de baleia... e de vaca. Corri essa vila sem vivalma. Fotografei.

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Não me confrontei com monstros (este é o capítulo da arquitectura). Casario chão, viaturas só por acaso.

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Ruínas armoriadas porque ninguém é perfeito... Ruas estreitas, amigas, fazendo vénia a esse nosso gosto de andar no meio delas. E muito, muito, para ver em tão exíguo lugar.

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De restaurantes não me apercebi. De comércio quase também não. Somente, bem firme, uma vida segura para além do movimento. Talvez não tenha esquecido o Céu da minha Fé, assim mesmo, - quieto, insólito e real.

Era um primeiro dia. Com a boca tão aberta que eu havia de me comprometer com dias seguintes... Talvez aquando da volta dos piratas e das mulheres de má vida, galeões ao largo, um instante de bagunça e de Tortuga portuguesa.