À boleia
Via-o, frequentemente, saindo logo de manhãzinha da sua villa magnífica, cujo giardiniere eu bem conhecia pela beleza da ragazza sua filha. Enfim, encontrávamos-nos, eu e ela, com assiduidade e bastante às escondidas...
Mas pontualmente o signore surgia no portão, o seu Lancia Appia roncando ainda mansinho, novo, acabado de sair dos catálogos, era uma das grandes sensações do ano e, neste 1954, outro mais não competiria decerto com ele. O rumo havia de ser o dos seus negócios em Roma, como confirmei dessa vez em que me ofereceu boleia.
Trajando com muita qualidade, penteada a rigor a sua cabeleira bem escorada em brilhatina, pró baixito mas cheio de actividade, conduzia assobiando, ambas as mãos no volante e uma velocidade constante. Tinha metido a terceira e a máquina avançava pujante.
Il motore ma que cosa meravigliosa! Che bel viaggio! E assim conheci e lidei com o novo Lancia Appia - eu e o carabinieri que, num apito estridentíssimo, o mandou parar e repreendeu al signore por causa da sua desabrida entrada na ponte Cavour, quase ceifando uma infeliz Piaggio - Ma che fretta signore!...