Pacotinhos de psicologia
Foi tarde fustigada por fortíssimas bátegas de asneira. Tal o negro nublado, um livro de nascença americana imbuído de filosofia oriental. Na sua enésima edição... E tal o vento, deixando nas suas páginas a preguiçosa ideia do «sucesso» alcançado sem esforço, apenas pela «aplicação das leis naturais que regem o universo». Só, mais nada.
Ganha-se sempre com estas leituras: a lição de que qualquer um pode mastigar a primeira patranha que lhe vier à ideia, há sempre a quem aproveite; e o real poder imaginativo destes pregadores outrora combustivel inquisitorial. Pois sempre fiquei sabendo que Kafka foi um enorme «filósofo e poeta»; e que o «Eu» é mais do que o «Ego», este reduzido à mesquinha dimensão da «nossa máscara social» («o campo da potencialidade pura é o nosso próprio Eu. E quanto mais possuirmos a experiência da nossa verdadeira natureza, mais próximos nos encontramos do campo a potencialidade pura» - algo decerto evidente...).
Abismado de tanta ignorância, a minha, aprendi outrossim que a «prosperidade provém da afluência, palavra cuja raíz significa "fluir para". O termo "afluência" significa "fluir com abundância"» - para algum lado, provavelmente.
Com os habituais «karmas» e outras leis cósmicas, a parlenga «fluiu» para o dinheiro (recordemos, o guru é americano, professor na California...). Não admira, a sua douta teorização sobre os meios de obter riqueza, ou outros anseios, seguindo à risca as «sete leis especiais do sucesso». Sendo a arguta obra, afinal, o seu enunciado.
Que mais dizer? O dinheiro, a felicidade, a «vida nova», são neste manual devotamente espalhados para milhões de carentes. Mas, por amor de Deus (a entidade criadora do «plexo solar»...), o «imenso campo quântico - o universo -» não «constitui uma extensão do nosso corpo». Não, isso não, eu quero caber nas minhas camisas!
Porque, em suma, o tal livro é somente um universo imaginativo de ideias desencontradas e sequências inconsequentes. Uma marotice. Um direito também, sem dúvida, mas com lugar reservado em prateleira própria e o devido rotuluzinho: Tontices.... Há gente que ainda se deixa enganar, que acredita e depois desespera, que sofre a sério e é permeável à banha-da-cobra..
E nesses deviam atentar a Ética, a Moral, a defesa dos consumidores e a Direcção-Geral de Saúde, vacinando-os. Já nós outros, bem podemos com esses mananciais de espertalhonice, picando em cada parágrafo as incongruências com seus antecedentes.