As notas à José Maria
Pessoa amiga trouxe de Tormes, e ofereceu-me, o bloco-notas, aperreou-me com muito mais, o temor de escrever à sombra da efígie de Eça de Queiroz e da sua assinatura. No tamanho natural dos caderninhos que levo sempre comigo, trarei agora esse velho e querido "fantasma" dos meus que já foram. Ah!, coubesse a sorte a eles!
Enfim, eu escravo de mim próprio, seguindo caminhos que não sei... Mas sempre de lapiseira em riste, em formato (hodierna palavra maldita!) do calibre do que hei de transmitir. Um dia contei o perdido na Beira Alta... Mas logo corri a recuperar o olvido, a súmula e o remate destas poucas artes. Só fui capaz de as renascer em parte. A parte maior salvou-as o fatal confinamento...O catálogo era parco.
Sucedeu nas cercanias de S. Pedro do Sul, lugar invejoso dos bons minhotos. Ora a gente não pode é hesitar e, por isso, dei-me à compra de bloco de iguais dimensões e condição conforme. A senhora da loja tanto atentou na minha Provincia que usou de um X-acto para demover da capa do missal uma nódoa verde-rubra posta no lugar do meu eterno azul-branco. Que eu, proclamei, não me vendia...
Assim, sem escrófulas, recomecei a viver. Num breve momento de hesitação sua, ameacei-a com reliosidades semelhantes, em dimensão, oriundas da agência funerária da minha terra. Ela, a senhora, temerosa, aboliu ante os meus olhos o caixão e a República. Palavra de honra!
Isto tudo seria nada, nada mais senão a minha herança. (E não pensem os meus herdeiros o contrário.) No bloco, seguindo a regra de ouro de não cortar nem rasurar. Escrita transvia, escrita que, melhor ou pior, volta aos trilhos e sai a público. Perdida, colha caminhos para se recuperar... E com disciplina, que ela comigo não brinca!
Desandei. Já não sei onde vai o José Maria. Agora mesmo, ouço-o, de antigamente, mandar-me ter tento na língua. Com razão, decerto. Com toda a razão do Mestre sublime que puxa as orelhas a um discípulo, um escriba qualquer.