À boleia
Um pequeno povoado sérvio, desprovido de transportes públicos. E a urgência em partir, a noite avizinhava-se. Porque não me socorrer da boleia?
Minutos volvidos, a ideia revelava a sua oportunidade. Quem vinha lá? Algo parecido com um pequeno utilitário dos Anos 80, a gemer de dores nas costas e pouco cuidado na sua aparência. Com um estranho símbolo identificativo, seria algum carrito japonês?
Era um Yugo, uma marca jugoslava. Uma relíquia, pois, mais política do que mecânica. Foram produzidos na fábrica Zastava Automobili, sob licença da Fiat. E com a costumeira avareza de conforto, um andar lento, quatro galinhas cocorotando assustadíssimas no banco de trás. Mas sobre este quadro pouco entusiasmante, a boa vontade do condutor e o seu (e o meu) mutismo porque de todo não sabíamos entender-nos.
A viagem foi curta, o destino era uma vilória próxima. Os agradecimentos, expressei-os com o polegar bem esticado. E o Yugo prosseguiu rolando, lembrando um saudoso retorno à sua Yugoslávia... Curiosamente, tempos depois, li numa revista de automóveis, o Yugo era considerado o pior carro do mundo (ainda assim com 140.000 unidades vendidas nos EUA). Já não o fabricam e, nesse dia, foi a minha máquina salvadora, hoje uma saudade de lugares tão distantes.