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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Sistelo (Arcos de Valdevez)

João-Afonso Machado, 29.10.21

A comitiva partiu dos Arcos tendo por horizonte pesadas cargas de montanha. Atravessou o Vez, mais adiante, e encheu os pulmões para a subida. A freguesia de Sistelo exigia ainda uns arfantes vinte quilómetros.

Não houve o debacle dos motores. A estrada passava à ilharga de Sistelo e o estacionamento foi na berma, onde logo se nos deparou, como sempre acontece no Minho, a igreja paroquial e a magnitude da sua torre sineira.

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Depois embrenhámo-nos na aldeia. Estas idas em grupo requerem a ciência de um certo afastamento, os minutos necessários para que a máquina fotográfica consiga operar e uma pessoa sorva as lições dos lugares, o que eles nos contam de si. Muito rapioqueira, Sistelo exulta com o fim da lavoura de subsistência: tem boas carnes, boa cozinha, tudo agora é o turismo... Assim o primeiro edifício que cruzámos disponibilizava artesanato e souvenirs!

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Nunca tal eu vira em povoados perdidos entre os montes da minha Província!

É claro,  não ficaram esquecidos os séculos da Via-Sacra popular. Rezada pelas vielas da aldeia até à estrada, copiosa lamúria, à 11ª estação já só no recolhimento de um gato cinzento da região: o minhoto anda agora menos ocupado em motivos de súplicas... Felizmente!

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Mais zela pelo povoado. Das antigas vendas fez apelativas tasquinhas. Esperto, sabedor, deixou ficar tão bem a melodia das suas águas, o fontenário da comunidade.

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E, outrossim, os espigueiros. Pedra limpa, tábuas novas, a estética pela estética, que são sempre mais os que vêm de fora, e esta cama das espigas (assim o confirmam as datas oitocentistas gravadas nos seus frontespícios) é a marca da casa, genealogia do povo.

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Somente... coexistindo agora com as esplanadas. A do restaurante O Cantinho do Abade de vistas magníficas para a magestade do Soajo, e uma posta de vitela de se lhe tirar o chapéu. Foram mais de 50 esfomeados à mesa e a genica, a simpatia, de uma só minhota a servi-los. Sempre ágil, bem disposta no traz e leva dos pratos e das garrafas. Muito bonita - acrescente-se - a deixar-me fotografá-la sob promessa, que cumpro, de não publicar o retrato. Com pena enorme: as minhotas serranas são diferentes, geniosas, queridas, de uma beleza seca, trigueirinhas, os olhos de azeviche...

E foi ela, essa formosa minhota, que me falou do «castelo». Enfim, uma torre do século XIX, apta a obstaculizar os terrores imaginativos de idos massacres sarracenos. Actualmente (mais) um restaurante, uma varanda régia sobre o vale do Vez.

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Assim o Minho está. De cara levantada, cioso da sua riqueza, hospitaleiro para quem a quiser usufruir. E sempre verde, sempre granítico.