Cavalgando o Dezembro
E vamos nós trotando o Dezembro, já quase a meio da viagem. Levado a rédea curta, ainda assim Dezembro só tem na ideia os manjedouras do Presépio, o Natal. O Natal-al-al-al a ecoar-lhe no espírito, aliás natalício. Está frio, sem luvas as mãos são dormentes, destituidas de forças, mesmo de unhas. Até a samarra saíu do armário acorrendo às alvas manhãs de geada, facas de gume afiado rentes aos corpos, Dezembro cavalgado.
Vamos trotando a refrear Dezembro que resfolega de impaciência. E deste modo envelhece na sua vaidade de macho inteiro. Dezembro, o garanhão... Como se o potro Janeiro não andasse crescendo... Mais novo, claro, mas sereno e igualmente branco. Um cavalo ainda não desbastado e já a deixar-se montar: o grande cavalo esperto, fito nos dias grandes trazidos pelo sol, quando o suor vier, e todos nos enchermos dele. Um eia! a Dezembro, se ele quiser viver entre luzes, gozando a ribalta do aconchego, alarguem-lhe o freio, esporins a picá-lo, o pingalim em riste. Mas Dezembro borregará, o cavaleiro caído, Dezembro indomável, e outro a vir célere, mais novo, de rédea frouxa até... ao filho deste Dezembro, um enésimo Dezembro...