O regresso da máquina analógica
Afinal há ainda quem revele fotografias, notícia recebida com o maior júbilo pela minha velha Canon analógica. É tudo muito simples: compra-se o rolo (o filme, como lhe chamam) e vai-se por aí em tiros ao que calhar. Esgotadas as munições, apanha-se o comboio para o Porto, até à estação de S. Bento: sobe-se a Rua Sá da Bandeira e a loja é lá, a seguir ao Bolhão. Depois almoça-se com um amigo, sabem-se as novidades e, levantados da mesa, o CD está pronto e o comboio do regresso prestes a partir.
Só para desempoeirar essa minha desempregada parceira, passeei com ela aqui por perto do meu palácio em propriedade horizontal, a modos de quem vai aos pardais com fisga. Mas sempre acompanhado da minha senhora, a Dona Mécia. E assim nos entretivemos com as ruínas do outro lado da estrada, agora descabeladas, antes de farto silvado a cobri-las, e aos fossilizados restos mortais de um R4 que tanto nos punha a pensar sobre a vida ali vivida.
(As silvas têm quase sempre segredos. Cobras, coelhos, passarada no ninho, o ratito do campo... Sei até de umas que são a jazida de um Morris já sexagenário! Além disso, são os picos que não deixam esquecer, algum dia tudo será menos triste, ou menos abandonado...)
Pois dessas ruínas, tirei a ideia, ali houve fabriqueta. E ou muito me engano, ou não tardam quaisquer quatro ou cinco andares sobre as suas cinzas. A fotografia terá então cumprido exemplarmente o seu múnus de documento histórico. Mesmo fracota como saíu...
Porque esse rolo do seu rejuvenescimento pouco produziu. É necessário retomar conhecimentos antigos e afinar a pontaria - o resultado do tiro somente será conhecido em nova viagem ferroviária ao Porto, à Rua Sá da Bandeira, ao almocinho a fazer horas para o retorno.