Outeiro Seco
Esta é uma história real que eu desenterrei a norte, na raia de Chaves, precisamente na freguesia fronteiriça do Outeiro Seco, tirando com ela, de um buraco qualquer, uma saca toda de moedas de ouro romanas. Foi no curso de uma certa investigação que me interessava e, tão inusitadamente, levou a essas recônditas paragens, onde dei fé de um felizardo topando o dito tesouro nas suas terras sáfaras e mal-agradecidas.
O tempo de uma euforia imensa mas prudente, espreitando de esguelha, desconfiadíssima do temível Erário Público. A aconselhar uma fuga célere a cavalo do ouro todo, com o século XVIII ainda mandrião. Sequer se despedindo do Rev.do Domingos Pinheiro, o Abade, a essa hora dormitando na sua apessoada casa,
sequer indo pela igreja paroquial em acção de graças,
ou mesmo pela capelinha da Senhora da Portela que, toda a vida, tantas preces lhe ouviu.
E onde viveria o "totalista"? É o que não apurei. Talvez em alguma ruína do Presente, de casario menor
ou mais avantajado
Talvez em construção condigna que algum parente (a quem também não disse adeus...) conservou e transmitiu à descendência. Seguramente não no solar que então se levantava e agora tomba, posto não pertencer à família em causa.
Era solteiro, abalou sozinho. Decerto em maré de sementeiras, as Festas já passadas, esquecidas, jamais revisitaria o presépio da sua terra.
E os vizinhos montes de Ourense,
a ribeira a traçar em dois a aldeia
e o granito firme do seu casario.
Enfim. Fui dar com ele em Estremoz, onde casou e teve geração apontada a Borba. Era gente rica, então, e foram importantes, assentados em cargos administrativos e militares. Chamavam-lhes «os Moedas», donos de toda a irreverência transmontana posta nas horas vagarosas do Alentejo. De tal modo que o metal sonante findou e o poderio também. E eu sei tudo isto porque desse clã irrequieto e mesmo insubordinado apenas herdei a minha Avó materna. Obviamente - uma grande Senhora! O ouro lhes tenha feito bom proveito...