Um pint à Portuguesa
Um pint pode ser uma tarde toda, ou o regresso do trabalho a prolongar-se por um serão sem obrigações no dia seguinte. O pint envolve ainda a amizade com quem está do outro lado do balcão, ou a conversa fiada com os desta banda ou os parceiros de mesa. Porque só assim o pint escorre bem e alcança as transcendências do futebol, enquanto os nossos dedos desembaciam a caneca com cubicagem para meio litro de cerveja - tirada de pressão, bem entendido, sugada de longos pescoços com um manípulo de velocidades oscilantes.
Não duvido das origens saxónicas ou germânicas do pint. Nem discuto onde reside - se nos pubs, se nos botequins.
Pessoalmente falando, fomos apresentados há uns anos em Canterbury. Dessa formalidade se encarregou o meu filho mais novo - Pai, mister pint! - Nice to meet you! - Nice to meet you too, I'm the pint! - E logo uma firme amizade brotou, acompanhada de um rosbife esplêndido e The Old Weavers por anfitreão.
No regresso a casa, despedi-me do pint com um vigoroso shake-hands e já muitas saudades. Correram os anos e a cada passo o encontrava, aqui e ali, mas fugaz, mortiço, quase sem chama nem humor...
Espanto dos espantos, revi-o recentemente mesmo defronte ao meu esconderijo. Na Portuguesa, onde frequentemente almoço. Chegara da Alemanha numa maçaneta verde, por ora a única, o reinício da sua vida em terras lusitanas. Levezinho, fresco, um apetite de ser bebido. Quem diria?! - o pint por cá! Dei-lhe um abraço, emborquei-lhe duas copázias. E os mais tranquilos fins de tarde são agora com ele, em redor de todos os dramas existênciais do F. C. de Famalicão. O pint sabe da bola mais do que todos, é um gosto, uma lição, ouvi-lo. E a gente quando se despede - See you later! - vai mais sossegado e crente, a gente volta a acreditar, diz-nos a fé em breve o pint ganhará mais torneiras, uma bela policromia, e o Famalicão um lugar na Europa.