Desafio Arte e inspiração| O sem fim
Essa série televisiva Espaço 1999 transportava-nos para um futuro impensável que hoje é um passado infantil e pintado a preto e branco. Nada, então, de muito empolgante, acrescento. Salvo no facto de episódio sobre episódio a nave, tripulada por gente plurirracial, enfentando seres e perigos sinistros, jamais acertar com o caminho para casa. Querem angústia maior? O que sentiriam, perdidos no Cosmos, sem jamais redescobrirem o planeta do berço, a sua Famalicão?
Talvez o Espaço 1999, sem índios nem cowboys, tenha sido uma primeira noção nossa do infinito. Porque tal como a nave perdida também a nossa inteligência não alcança o além do além do Além. Como se desenharia o fim do Universo, acreditando que o Universo tem fim? Quantas as gerações necessárias para rematar uma viagem até ao Nada?
E se o Universo fosse uma bola circundável? Eis uma interrogação esbarrando nessa outra - e para lá da bola? Mais bolas? Uma sucessão de bolas? Seria o Universo o conjunto de todas as bolas? Quantas eram elas então?
E a catraiada deitava-se perplexa e assustada com tão inquietantes questões e um certo peso misericordioso pelos humanos perdidos sem bússola entre tantas esferas e as correlativas ameaças de formigões gigantes, faladores e ameaçadores.
Kandinsky, premonitoriamente, desenhou um buraco no firmamento por onde se escoam os planetas e as estrelas e os anos-luz, decerto devolvidos ao Espaço e ao Tempo por outra cloaca similar. E assim mais conformada, a nossa eterna condição de catraios dorme mais tranquila afinal. Recordando, saudosa, os astronautas do Espaço 1999, que todos morreram lá muito longe, sem atinarem com o rumo para a sua Famalicão.
Publicado no Desafio Arte e inspiração do blog Porque Eu Posso (https://porqueeuposso.blogs.sapo.pt/).