Pacotinhos de mantras
Eu ando no encalço das manicures e pedicures e do seu recente saber. Mas é difícil. Somente conheço bem, aqui no "bairro", os restaurantes, a loja de ferragens, a mercearia e o sapateiro, o alfaiate e o pronto-a-vestir, a loja dos cartuchos para a caça... Donde fico desfalcado dos mais secretos saberes das mãos e dos pés e das novas ocultas ciências.
Ciências tão isotéricas que alcançam a futurologia e o determinismo. Tremendas! Assim eu me embrenhasse nesse subterrâneo posto ao ar livre, assim conduziria a mente e ganharia o que nem jogo, o euromilhões...
Porque é de exclamar: como se houvesse o Destino! Como se tudo (a acreditar no que vou lendo) dependesse de exercícios respiratórios depois dos quais a bem-aventurança está aí!
E como se Antero de Quental andasse mentindo ao poetifilosofar - «Faze um templo dos muros da cadeia/Prendendo a imensidade eterna e viva/No círculo de luz da tua Ideia!»
Misturei imensas coisas. (É o meu mantra...) Já temo a insurjência das manicures e pedicures. E das cabeleireiras. Desse mundo que arranja as senhoras e lhes veicula convicções orientais diversas: os mantras (rodinhas em unicentro e muitos símbolos e meditações manhosas), posturas de corpo e espírito em dó menor, disciplinas diárias, manipulações do "eu" e outras malandrices. Tudo com muita venda livresca.
Enquanto não (enquanto não descobrir uma divindade trabalhando a cabeça que jamais trabalhará), vou vivendo disto - do quotidiano, dos bons e maus momentos, das revoltas que hei de subjugar e das vitórias que fui e irei gozar, de uma vida que vai andando. Sempre sob o velho mote - "resistir, nunca desistir". Porque aí reside a razão do nosso orgulho. Ser sem azares é ser sem ser. Domesticar dores não se traduz em manhãs de sol na praia ou caminhadas ao alvorecer...
(Findo aqui. Não sou nem manicure nem pedicure... Assim o «círculo da luz da Ideia» me alumie sem precisão das candeias mantricas logo aos pioneiros raios de sol.)