Sou pelo Mafra!
Dei por isso ontem, na primeira rodada das meias-finais da Taça. Dois gigantes numa luta que ditará a morte de um deles; e um duelozinho mais modesto, cujo ganhador enfrentará no Jamor a dita fera sobrevivente. É neste ponto da história que entra o Mafra.
Para quem os tem em salas sobre salas, de que serve outro galardão? Aquilo há de os enjoar até, enquanto o Mafra, da II Liga, anda falho de "canecos" importantes, nunca os houve senão os dos torneios de matraquilhos.
A vida dorme por lá, em Mafra, sequer a acordam os carrilhões do convento e os esforços e pompas d'El-Rei D. João V. Por vezes, dá uma volta na cama, espreguiça-se e mordisca uns tremoços na esplanada, saboreia a sua imperial. Em dias especiais soltará mesmo um ou outro comentário futebolístico.
Mas sonha. Mafra sonha sentada, sonha alto, sonha acordada. Amarela e verde de um entusiasmo repentino, lá longe a remota hipótese da Taça de Portugal... Um sonho colectivo, aliás.
Estou com o Mafra. De café em café, agitando os estados de maior algidez, sentado no jardim público a espreitar a sueca dos velhotes, trocando cartas por cromos antigos dos craques da bola.
E quantificando romarias ao bom peixe da Ericeira, as ginginhas de passagem no José Franco que Deus tem. Uma colecção de dez quilómetros para lá, outros tantos para cá, na sofreguidão das sextas à noite dos antigos cadetes da Escola Prática. Faça-se o Verão em Mafra, cubra-se de glória a região saloia, tragam essa Taça do Jamor. E atrás dela a Europa, tocando burriquitos na berma das estradas de regresso a Lisboa, carregada de frutas e legumes, de roupa lavada na "água fria da ribeira".