Minas da Borralha
Os horrores da II Guerra Mundial, como sempre acontece, foram a fortuna de uns tantos. A calamidade passou-nos ao lado mas certo é muitos portugueses enriqueceram mineirando e exportando uma pedra densa, negrada, - o volfrâmio - que proficuamente servia à fabricação de munições letais.
Era a sinistra raiz de algum desprezo que ainda hoje paira sobre os "volframistas" de então. Houve-os por todo o lado, e nas minas da Borralha também.
Estamos na freguesia do Salto, do concelho de Montalegre. Mesmo num cantinho dela, no fundo de um vale onde desliza a ribeira do Amiado, vulgo «rio da Borralha» ou o «Basófias», para alguns. Um curso de água truteiro e convidativo, alheado da História, que os males levam-nos as águas imparáveis, onde irão as de há seis décadas atrás?
A Guerra é uma reminiscência longínqua. A actividade das minas da Borralha outro tanto. Ficaram as memórias de uma época infrene e os famigerados "centros interpretativos". E ficou mais. Porque naquele recanto da freguesia muito se construiu - até um bairro operário - muito se ergueu em nome de uma exploração razoavelmente passageira.
Robusto casario. Vidas vividas e quase não substituídas senão pela intransigência da idade. Serviços de primeira necessidade como os correios,
o telefone,
e o café onde o pessoal sobrevivente se encontra e joga qualquer batota e se lava em bagaço ou cerveja, consoante a maré do ano.
(Uma carrinha de funcionários da edilidade procede à limpeza dos arruamentos, fornecendo informes. Ali habitam, presentemente, 196 almas que labutam fora e vão e vêm todos os dias. Mas aquilo é «um paraíso», garante uma senhora de vassoura em punho.)
A terrinha está abastecida de boas moradias e cada edifício, cada memória. Não longe, sucedendo-se umas às outras, as cascatas da ribeira. Do «Basófias».
E o turismo? - perguntei. Pois o turismo vem aí. Até porque as ruínas do velho palacete do Director das minas será transformado, a breve trecho, em pousada ou qualquer coisa parecida.
O lugar foi comprado por uns canadianos investidores e o resto competir-lhes-á, e à riqueza do ambiente...
Gostei. Cada bocadinho do nosso mundo tem a sua expressão
e nada melhor para a traduzir do que a atitude dos animais ante este bicho estranho que somos nós.