À boleia
Era o carro da Tia. Chaves surripiadas e uma voltinha de fim de tarde só pelas redondezas. Por esta e aquela rua até chegar às Caxinas, um ermo na altura, e a prima a pedir boleia, nessa noite de Vila do Conde, rumando os lugares do costume.
Pois sim, claro, com todo o gosto...
Conduzia um Datsun 1200, volante desportivo e um motor cheio de garra. Além disso, manifestamente, queria mostrar os seus dotes de experimentado condutor.
De modo que enveredou pela marginal. Estrada ampla, já bastante movimentada, na direcção norte-sul, o sol posto no meio de grande ventania. O pé no acelerador e o Datsun a crescer: Bastava olhar o conta-quilómetros - 100, 120, 130km/h... O vento a dar nesta rota musculada e veloz, mas levezinho, as areias postas pela nortada no asfalto, enfim, um baile arrojado.
- Pare, pare! Já viu a velocidade a que vai?
E o ás impactante. Ainda aspirou um cheirinho no circuito de competição automóvel, fez meia volta e deixou a lívida prima onde ela quis. Depois recolheu a casa, escadas silenciosas acima, depositando as chaves do Datsun de modo o mais insuspeito possível.
Quem deu boleia, esse dia que podia ter sido trágico - fui eu... Um desencartado e tonto.