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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

À boleia

João-Afonso Machado, 30.04.22

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Era o carro da Tia. Chaves surripiadas e uma voltinha de fim de tarde só pelas redondezas. Por esta e aquela rua até chegar às Caxinas, um ermo na altura, e a prima a pedir boleia, nessa noite de Vila do Conde, rumando os lugares do costume.

Pois sim, claro, com todo o gosto...

Conduzia um Datsun 1200, volante desportivo e um motor cheio de garra. Além disso, manifestamente, queria mostrar os seus dotes de experimentado condutor.

De modo que enveredou pela marginal. Estrada ampla, já bastante movimentada, na direcção norte-sul, o sol posto no meio de grande ventania. O pé no acelerador e o Datsun a crescer: Bastava olhar o conta-quilómetros - 100, 120, 130km/h... O vento a dar nesta rota musculada e veloz, mas levezinho, as areias postas pela nortada no asfalto, enfim, um baile arrojado.

- Pare, pare! Já viu a velocidade a que vai?

E o ás impactante. Ainda aspirou um cheirinho no circuito de competição automóvel, fez meia volta e deixou a lívida prima onde ela quis. Depois recolheu a casa, escadas silenciosas acima, depositando as chaves do Datsun de modo o mais insuspeito possível.

Quem deu boleia, esse dia que podia ter sido trágico - fui eu... Um desencartado e tonto.