À boleia
Chegando o tempo quente é sabido, principalmente aos domingos cresce muito a temperatura dos espíritos motorizados. Por esse - e não só esse - motivo se diz a vida à boleia é uma aventura. E com tais palmadinhas nas costas esta malta do Poder se descarta de nos proporcionar transportes de qualidade a preços acessíveis.
Pois nesse dia já antigo e de feroz canícula, tinha de subir a Falperra: não me lembro porquê mas a minha pessoa era aguardada no Bom Jesus. Vaí daí, lá no fim de Braga, de cabeça ao sol e o polegar esticado...
O Mini parou, muito barulhento. Estava para breve a Rampa... O condutor, todo apressado, fez sinal com a cabeça, que entrasse rápido. E arrancou, primeira, segunda, terceira, reduziu na curva soltando um formidável raté e apresentou-se: era o... (não me ocorre o nome agora) e concorria no Campeonato Nacional de Iniciados. Com aquela máquina, está visto, e uma preocupante míngua de patrocinadores, ninguém parecia impressionado com os rugidos de um 850 pintado de Cooper S.
Foram as voltas da Falperra a suportar a revolta do incomprendido ás. E eu também. Os braços retesados e as mãos firmes no volante desportivo, com a direita vindo muito à manete das velocidades, ratés atrás de ratés, um insuportável fedor a carburante e a desagradável visão, aqui e ali, de seguirmos em frente, ravina abaixo. Não sei se bateu algum recorde, mas tudo se passou com celeridade bastante para o pânico não se entranhar. Chegados lá acima, pus-me fora de um pulo e agradeci a boleia. Sobretudo agradeci estar ileso, mas isso foi entre mim e o mui nosso Bom Jesus, em curta passagem pela capelinha. Desta vez, a Rampa não fizera vítimas...
Quanto ao Marku Allen latino, nada mais soube dele. Se calhar até veio a brilhar no Campeonato Nacional de Iniciados.