Um mundo de quase faz-de-conta
Nada mais confrangedor do que as nossas fronteiras terrestres, cá para a gente uma linha imaginária, apenas, para quem chega ou sai de casa. Nem sequer o saltinho de um murete...
Para os camionistas de longo curso, vastíssimos parques de estacionamento e pernoita nesses monumentais TIR's autênticos moteis com cama e água lavada e mulheres (não, nada estou a insinuar, são certamente as suas legítimas e amantíssimas esposas e companheiras de uma vida na estrada) descendo os degraus para um clima de fuel pingante e óleos escorregadios, jardins recém-chegados onde se instalam calções garridos e celulites várias, praia de ares navegantes na ondulação do calor.
Enfim, para as excursões as fronteiras são a explosão contida durante horas, a euforia dos caramelos, chocolates e jamons, os supermercados virados do avesso; para os portugueses da raia, o combustível a preços humanamente acessíveis; e para o espanholito, a petiscada, a vinhaça, tudo baratinho mas reclamado na sua porfiada tagarelice.
Em outros tempos, guardas mal encarados, severos e armados revistavam-nos os carros nas fronteiras. E a gente jogava ao gato e ao rato com eles. Era mais divertido e um pouco menos barulhento.