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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

A preto e branco

João-Afonso Machado, 30.08.22

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Areal vasto e húmido da neblina consentida pela ausência da nortada. Ti Eufrásia, contente, quase não o vislumbrando sabe-o chão, aquietado, o mar. Já perto dos oitenta, será das poucas ainda poupada à viuvez, às roupagens negras até ao final... Isso esperta-a, com olhar firme e pele crestada segue o correr dos bois de baixo a cima, engatando o cordame das redes e puxando-as para terra. E com largueza, apenas o povo da pesca, que aos turistas nada agrada engraxar os pés na bosta do gado. Ti Eufrásia observa, faz contas de cabeça.

O barco apanhara de carreira a última onda ia para duas horas. Ao mando o Mestre Lauro, o homem da Ti Eufrásia. E à proa o sinal dessa união de muitas décadas - Eufrásia de Jesus, era o nome da embarcação matriculada na Figueira. A rede não tardaria aí e a safra prometia...

Fora, porém, na Praia da Tocha que se haviam fixado, de tasca avinhada aberta à inactividade e aos frios da invernia. Vendiam fiado, ou não gozasse o Mestre Lauro de todas as honras e influências de um arrais.

Mas agora é Verão e Ti Eufrásia, muito lesta, encheria a canastra de sardinha e carapau e num instante se veria em Cantanhede, antes ainda de nas areias findar a lota e a subida do preço do pescado. Não há quem a não receba de braços abertos, por quantas portas da vila, nem dia em que não regresse de canastra vazia e um ror de moedas embrulhadas no seu lenço de assoar, bem no fundo da bolsa do avental.

 

Desafio 52 semanas - 35|Sonho e realidade

João-Afonso Machado, 29.08.22

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Não há muito tempo reli Húmus do Raul Brandão. E entre a inquietação e o desespero alardeados pelo Autor, fui lá descobrir algumas palavras ciumentas acerca do que ele parecia não conseguir alcançar -«A vida é muito maior pelo sonho do que pela realidade».

Fui sempre um sonhador. E paguei caro, aqui e ali, tão almejada benção. Justamente quando o sonho colidia com a realidade e as mágoas eram muitas e sem fundo, às vezes. O sonho virava pesadelo - «[D. Leocádia] trouxe sempre consigo debaixo do xaile um resto de sonho amargo»...

Mas sou nada de elencar virtudes ou defeitos, proezas ou safadezas. (Apenas, secretamente, contabilizo os cartuchos que gasto versus as peças que abato. E componho os números à minha feição como, de resto, qualquer caçador.) Não quis, todavia,  abandonar essa faceta sonhadora. Somente tentei temperá-la com algum pragmatismo defensivo, que a realidade é o que é.

- Sempre resistir, nunca desistir - foi, assim, o lema que para mim criei. E que tanto me tem ajudado, até porque creio em Alguém a olear-lhe o motor. Essa a minha verdadeira e única benção.

 

(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)

 

O Praça Velha

João-Afonso Machado, 25.08.22

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Abriu muito caladinho em 2009, na Praça Antero do Quental, do lado mais resistente e genuíno de Vila do Conde. Nem sei mesmo se foi assim festejado, ninguém me falou nele e descobri-o por mero acaso quando, de viela em viela, tentava fugir ao trânsito das ruas principais: - "Praça Velha", lia-se em placa aposta em edifício antigo de bom aspecto. Nesse mesmo dia fui lá almoçar.

Logo com o benefício da amável recepção pelo Sr. Tiago. Escolhi um lugar na esplanada quase sem gente (os restaurantes quase sem gente são sempre os melhores do mundo) e verifiquei a qualidade das toalhas e guardanapos, tudo em tecido. Confortavelmente instalado, protegido de eventuais hostilidades por uma barreira acrílica escondida entre buxos e ameixoeiras bravas, pedi enfim ao Sr. Tiago fizesse as apresentações.

Para então, as honras iam todas para o cabrito e a vitela assados, como ambos escolhi. Sublimes, acompanhados de batata (também assada) e grelos. À laia de "volta cá" fui informado ainda que o Praça Velha serve predominantemente pratos regionais e está aberto o ano todo.

De modo que o almoço espreguiçou-se pela tarde adiante.

A lista de vinhos, composta de muita literatura, incluia um D. Ermelinda branco, de Palmela, e foi a sua leveza que eu saboreei sem pressas, sentido o cabrito e a vitela a nadar nele e o perfeito leite-creme queimado da sobremesa a diluir-se como um remédio de antigamente.

Não apetecia vir embora, deixar o esconderijo sob os descorados papelotes que ficaram no Largo desde o último S. João. Fora tudo bom e barato, não tarda lá me apanharão outra vez.

 

Da Costa Nova a S. Jacinto

João-Afonso Machado, 23.08.22

É o exercício militar da temporada, superiormente orientado pelo Almirante Z. ao leme. Com rotas de navegação diversas, incluindo a da lendária "nascente" da Ria por um labirinto de canais descobertos na baixa-maré. A tripulação é numerosa, o frio cortante e aqui o comodoro tem a seu cargo a captação de imagens e a busca dos famigerados bandos de flamingos. Mas a operação gizada para este ano previa apenas um raid sobre as sardinhas assadas de S. Jacinto.

O primeiro contratempo a bordo não se fez esperar: ainda o semi-rigido ia em aceleração, o assoreamento, um banco de areia no coração da Ria, meio metro de profundidade das águas e o encalhe. (O comodoro, de pé, compenetrado nas suas funções, quase foi borda fora com o solavanco...) E a embarcação, lavrando o fundo arenoso, logrou prosseguir, troando sempre, generosa em adeuses ao pessoal à vela

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já no horizonte se perfilava a moderna ponte da Costa Nova.

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Por todos os cais da Barra traineiras e navios mercantes atracados,

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paisanos acenando entusiasmados com o garbo da nossa máquina de guerra.

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Pescava-se muito, com ou sem sucesso,

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e este experimentado comodoro sempre trouxe consigo uma garça branca

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sendo preocupantes as notícias que corriam de récuas de javalis invadindo a nado e povoando a ilha onde só os marítimos fazem praia.

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Por isso nos mantivemos em alerta enquanto o nosso heroico Almirante Z. partia sozinho num reconhecimento top secret.

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Já S. Jacinto elevava nos ares os aromas da sua riqueza de pratadas e pratadas de sardinha assada.

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Terrinha lenta, inofensiva, servida por ferrys e atractivos restaurantes, sem torres, sem magotes de pares de cuecas; onde os reformados utilizam a cana de pesca como se jogassem a bisca à sombra. S. Jacinto chama por nós resmoneando entre dentes - Venham, venham, enquanto é tempo!... - E faz rebrilhar no sol algumas das suas pérolas habitacionais a desafiarem a migração minhota até ao último e solene embarque do comodoro.

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Um dia, quiçá... Entretanto, levado a cabo o saque, devoradas as sardinhas todas, havia que regressar.

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Viemos em nova corrida e tomámos a margem ilhavense pelo Canal Oudinot até ao Forte da Barra. Era o epílogo da epopeia imensa.

 

Desafio 52 semanas - 34|Baltasar Pinheiro

João-Afonso Machado, 22.08.22

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E se eu fosse Baltasar Pinheiro,

homem pretérito

vida curta e pouco dinheiro?

 

E se eu, Baltasar Pinheiro

o pai emérito do meu bastardo

filho de fogo que já não ardo,

vislumbrando a morte

o tivesse comigo, fiel parceiro?

 

E se defunto enfim

(duas linhas de História, Baltasar Pinheiro)

ainda sentisse em mim

lágrimas de memória dorida,

a mãe depois, o moço primeiro,

ela como se despida,

ele sem dote, sempre solteiro?

 

(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 21.08.22

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Empurrei o breve instante de luxo e disparei porta fora como quem apedreja automóveis. Lá em cima, no Norte mais nortenho, esqueci a maré hoteleira e saí à socapa de eléctrico, como todos os contentes com a vida.

Mas incognitamente, embuçado, não fosse a multidão dar pela relíquia e seguir o exemplo.

 

Costa Nova do Prado

João-Afonso Machado, 19.08.22

«... E eu considero a Costa Nova um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente Palheiro de José Estêvão» - eis como Eça de Queiroz relatava em carta a um seu amigo (quem?) andanças pelas bandas de Aveiro em Junho de 1893. Quando a Costa Nova, da freguesia da Gafanha da Nazaré, Ilhavo, seria quase só uma lingua de areia a deitar fora entre a ria e o mar, e os palheiros começavam a não ser apenas armazéns de embarcações e artefactos de pesca. Em madeira pintada com restos de óleos e tintas que lhes davam o seu tom original, negro e acastanhado.

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José Estêvão Coelho de Magalhães, liberal convicto e um dos desembarcados no Mindelo, depois orador parlamentar fulminante, natural de Aveiro, era um desses proprietários e o seu filho, o Conselheiro Luís de Magalhães, já longe de tais lides, decerto rapidamente destinou o palheiro a residência de veraneio. Onde recebeu muitos dos das suas relações, conforme os seus descendentes ainda hoje praticam com os descendentes dos de então, que é o meu caso. Por lá passo todos os Agostos, por lá familiarmente sou acolhido para uns dias de passeio, de cavaqueira e de jantaradas. E de reencontro com esses senhores regrados pela honestidade e sentido de humor e por saberem ler e escrever. Estão todos no Palheiro mesmo agora, o grande José Maria sempre sofredor do bacalhau de cebolada, aflitíssimo à noite, ruidoso até, entupindo o acesso à casa de banho...

Mas a Costa Nova cresceu, virou lugar habitável e de férias, encheu-se de um zebrado multicolor que se transformou no seu ex-libris. Alegre, garrido, cercado de turismo. Ainda o outro dia, pessoa interessada me pediu um fornecimento de imagens desse casario e não houve senão como chamar o velho Figueira, o meu almocreve (se o intitulo recoveiro ele enfurece-se...) - Ó Figueira, mete a albarda ao burro e leva esta encomenda a tal parte, se fazes o favor. - E ia-lhe passando as imagens - Olha, leva esta

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e esta também,

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já agora...

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e assim como assim,

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...vai também outra, ainda que desafinada, mas pode ser que sirva para conserto...

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Enfim, acabei enchendo-lhe o saco todo. O Figueira mirou-o, mirou o dorso da alimária e disse coisas entre o imperceptível e o irrepetível, - Vai lá, Figueira, deixa-te de resmunguices que a viagem é longa, tens para uma semana, não menos. (O velho Figueira foi e sei que chegará ao seu destino, homem diligente e de confiança é ele, são muitas décadas de bons serviços.) Feito isto, encaminhei-me para a praia, a espreitar os cargueiros que passam a barra

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transportando sonhos, planos, outros mundos a que dali um dia chegarei a bordo. Membro da tripulação, cortando os ventos frios a goles de aguardente, esfregando talvez o convés, mas sempre com tempo para sorver o espaço sem fim à proa, mesmo na pontinha.

Enquanto não, atravesso a língua e, na ria, colho o silêncio das águas, os derradeiros moliceiros já só passeios estivais, motorizados, pagos à hora.

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Mas mesmo aí de espírito firme no encalhado, junto à marina,

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esse moliceiro que um dia há de voltar a carregar moliço, o cheiro do moliço e a prata dos peixitos apanhados nele, o rabiar das enguias ante o monóculo arguto do venerando Eça - Menino!!! - sôfrego de caldeirada e revivendo os caminhos por que trouxe Jacinto Galeão aos lugares sãos.

 

Midões do João Brandão

João-Afonso Machado, 16.08.22

Ainda haverá quem se lembre da cantilena - «Lá vai o João Brandão/A tocar o violão/Casaca da moda na mão/Atão, Atão, Atão». Menos certo é descobrir quem saiba do protagonista desta lengalenga já tão velha. Eis, pois:

Chamavam-lhe o "Terror das Beiras" e, filho de pai ferreiro, pertencia a uma família de ladrões impenitentes e pretensamente guerrilheiros no seguimento da Guerra Civil. Todos abençoados pelas instâncias liberais sempre aliviadas e coniventes com algumas mortes perpetradas pelo clã... Foi assim, com sucessivas acusações e absolvições, até ao advento da Regeneração e ao homicídio de um padre, crime pelo qual o João Brandão foi condenado à pena capital depois comutada no degredo em Angola. Onde, aliás, viria a ser assassinado...

Sucede, João Brandão era natural e residente em Midões, concelho extinto em 1853 e hoje uma freguesia do município de Tábua, Coimbra. Não muito longe dos contrafortes da Estrela. E, despromovida, Midões embezerrou no Tempo. Manteve a sua Matriz elegantíssima

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e o Palácio das Quatro Estações, mudo e quedo, numa galharda espera por um amanhã condigno.

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Mas será complicado encontrar outra localidade com igual densidade de património imobiliário antigo, às vezes devidamente restaurado,

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outras nem por isso. O pelourinho, todavia, mantem-se lá,

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tal qual interessantes aspectos do quotidiano. Como sejam a Fonte da Caricha, lavadouro comunitário de 1872,

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e o seu sucessor de 1981, quando o mundo inteiro girava no ritmo das máquinas eléctricas e Midões, ao que se vê, - não.

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Ficaram outras ruínas.

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Sobrou o casario antigo

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e bocados desmantelados ou remendados dele.

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Sobrevieram lugares atenciosos como as instalações da Junta da Freguesia e um quase pronto "hotel de charme".

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A que tudo acresce o aroma feliz que emana das figueiras e o esvoaçar das aves - rolas, corvos, milhafres - mais a razia nos galinheiros, proeza dos Joões Brandões de agora, as ginetas e as doninhas. Os cães serranos rugem por todos os cantos, vá lá saber-se porquê sorridentes à minha passagem...

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Foram tardes de calor maduro e piscina de amigos a terapeutizar a minha perna. E jantares como manda o figurino. Pelo meio, a imperdível memória do incêndio de Outubro de 2017, em que o fogo chegou via aérea aos pedaços de lenha ardente.

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Midões contabilizou então duas mortes, as de uns desgraçados que tudo faziam para salvar os seus haveres. A ruindade entrou pelos telhados e devorou alguns séculos de História documentada e pergaminhos familiares. Não que isso fosse tema à mesa... Mais depressa se comentava a presença britânica em Midões - mulheres peludas como lobisomens, sequinhas de peito e calçadas em sandálias feitas de pneus de bicicleta...

 

Tábua

João-Afonso Machado, 13.08.22

O Amadeu, promissor pastor transmontano, veio trazido para a Beira Alta, mais precisamente para o concelho de Tábua, onde o distrito de Coimbra confina com o de Viseu. Foi uma companhia tão valiosa quão o seu olhar indica e os seus dois meses de vida fazem prever. Com saudades o deixei com a firme certeza de que, na próxima vez, o Amadeu de patas aos meus ombros é rapaz para me dar uma "amona" na piscina. Num outro dia qualquer a arder, como agora, em fogo vivo por tais paragens.

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A vila de Tábua não é rica nem monumental. Até parece uma marca posta no mapa com setas múltiplas indicando os mais atraentes lugares das redondezas. E correndo muito ao longo da sua Rua Prof. Doutor Caeiro da Matta (venerando Mestre de Direito na Lusa Atenas), onde a gente, depois de dar de caras na Praça da República (perdoe-lhes o Senhor o despropósito do topónimo) com a imensa Biblioteca João Brandão - um nome, uma história por ora em suspenso - 

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- ainda assim descobre edifícios de bom calibre, outrora poderosos, hoje adormecidos,

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e comércio convidativo, familiar, respeitável, - então como tem passado o "Ti Fernandes" dos seus bicos de papagaio?

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Porque, em boa verdade, não há localidades feias. Há-as é umas apenas mais bonitas do que outras. E o importante são as pessoas e o seu movimento, com alguns azares de permeio, sirva de exemplo esse cruzamento onde fui apanhado em flagrante fora de mão por um jipe da GNR, cujo cabo com todo a cortesia me multou em somente 60 euros. Poucos se poderão gabar deste feito azarento mas amavelmente resolvido, ali a dois passos do severo palco da Iustitia

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floreada pelo seu repuxo e esplanadas curiosas do acontecimento, vá lá a gente chamar parolos aos outros. Mais me interessou o destino da famíla Almeida ao deparar com a sua muda, cadavérica, "vivenda",

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porventura avantesmada pelos ditos Almeidas, intransigentes quanto à conservação das vidraças, velhinhos, velhinhos, mas ainda merecedores da atenção dos seus conterrâneos e com pernas para uma oraçãozita ao Senhor dos Milagres.

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Mesmo ali à mão, o recinto da União Desportiva de Tábua, decerto uma gloriosa combatente dos Campeonatos Distritais de Coimbra,

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de feições vincadamente parecidas com os Almeidas da "vivenda" da artéria abaixo. E, também como eles, de credo na boca a frequentar o Senhor dos Milagres...

Tábua é esta humildade em busca de algum conforto hodierno e pacato,

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ajardinado e já provido de TV Cabo. É ainda um bom punhado de terrenos semeados a girassol e leguminosas, umas oliveirazinhas entretanto,

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e a fugaz visão dos pintassilgos. Ora onde há pintassilgos há boa gente,

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aliás criativa e colorida nas suas idas ao mercado. Não!, - definitivamente Tábua é uma vila a que regressar.

 

Desafio 52 semanas - 33|Agosto, duas quinzenas

João-Afonso Machado, 11.08.22

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Nunca soube definir Agosto, essa é a verdade. De início considerei-o uma distância prolongada que partia do pico do entusiasmo até uma neblina triste de saudade e despedidas umas atrás as outras. Mas Agosto foi também o mês da liberdade, quatro semanas à boleia e lugares inóspitos e desprovidos da quotidiana disciplina familiar. Depois deve ter sido muito mais, desde ceias em horas de estomagos jovens até ao auge da actividade piscatória anual.

Lentamente, todavia, os ventos entraram a soprar de outros quadrantes. Agosto, a apoteóse do período estival, garantia também alguma tranquilidade no trabalho, a cidade semi-escoada de gente. (Muito a propósito, o Sol-divindade era dos Incas, não de uma certa tontice de bronzeados...)

Assim Agosto se foi pintando como o mês de não-praia. Da fuga à multidão. Ou o conjunto de duas quinzenas que revolvem os lados opostos da linha equatorial. Num infrene trânsito global.

Talvez por isso Agosto seja já a antecâmara de Setembro. Um protesto ao seu dia 15 e o sobe e desce dos que regressam a cruzarem-se com os que partem. Ou o mundo espreitado por uma frincha, aguardando a vinda do vagar e o termo da especulação, de todos estes algarves da vida. Isto é: a boa altura, Setembro, de ir em passeio...

 

(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)

 

 

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