A preto e branco
Areal vasto e húmido da neblina consentida pela ausência da nortada. Ti Eufrásia, contente, quase não o vislumbrando sabe-o chão, aquietado, o mar. Já perto dos oitenta, será das poucas ainda poupada à viuvez, às roupagens negras até ao final... Isso esperta-a, com olhar firme e pele crestada segue o correr dos bois de baixo a cima, engatando o cordame das redes e puxando-as para terra. E com largueza, apenas o povo da pesca, que aos turistas nada agrada engraxar os pés na bosta do gado. Ti Eufrásia observa, faz contas de cabeça.
O barco apanhara de carreira a última onda ia para duas horas. Ao mando o Mestre Lauro, o homem da Ti Eufrásia. E à proa o sinal dessa união de muitas décadas - Eufrásia de Jesus, era o nome da embarcação matriculada na Figueira. A rede não tardaria aí e a safra prometia...
Fora, porém, na Praia da Tocha que se haviam fixado, de tasca avinhada aberta à inactividade e aos frios da invernia. Vendiam fiado, ou não gozasse o Mestre Lauro de todas as honras e influências de um arrais.
Mas agora é Verão e Ti Eufrásia, muito lesta, encheria a canastra de sardinha e carapau e num instante se veria em Cantanhede, antes ainda de nas areias findar a lota e a subida do preço do pescado. Não há quem a não receba de braços abertos, por quantas portas da vila, nem dia em que não regresse de canastra vazia e um ror de moedas embrulhadas no seu lenço de assoar, bem no fundo da bolsa do avental.