Camilo, sempre ele
Escorrega-se-nos entre os dedos, a sua história, como uma enguia. O Camilo mais de antigamente, ainda jovem e já desiludido, lamuriento; romântico, pobre, quase desconhecido, recém-chegado, sempre de picardias. Com muita correspondência que lhe vai arrasando quantos mitos! Porque Camilo não guerrilhou na Patuleia; porque sobrevindo o sossego, aumentou-lhe a irrequietude entre o Porto, Braga e Guimarães, deixando por toda a parte poemas lamechas, dedicados a senhoras impressionáveis («Prevejo a hora extrema de morrer.../A campa vem além... na campa o nada.../Um sono sem fim... jamais sofrer.»), e 1850 é um ano indomesticável, intratável e ubíquo. Como sistematizá-lo?
Camilo no Bom Jesus e nas Caldas de Vizela. Numa roda de amigos que troca entre si poesia como quem joga cartas ao serão. Uma multidão, e alguns dos meus dentro dela.
Vai crescendo a pilha dos livros biográficos e das notas tomadas em folhas e folhas de papel. E o tinteiro já no fim, tantos os riscos em cima de frases ainda não no seu lugar. E as constantes interpelações epistolares de Camilo? A quantas não serei eu a responder, porque os seus contemporâneos a isso se esquivaram?
Que tal contenda se apazigue antes de 2046... Antes do bicentenário de uma Maria da Fonte em que até fingiu Camilo ter assistido ao assassinato do general comandante das tropas de D. Miguel!
Ah! Camilo, Camilo! Reparo agora, esqueci de conferir o ano em que conheceste D. João de Azevedo, esse boémio. Uma peça importante nesta charada. E lá escorrerá mais um bocado de tinta negra na escrita que hei de riscar ou entrelinhar...