Minha velha carcassa:
Eu sei, passaste um ano macaco de perna e pé ao peito. Foi uma espécie de covid ósseo ou muscular que te fechou em casa quase sem saíres. Um ano para esquecer, não? E um ano em que te aconchegaste ao blog e pouco mais produziste. Criaste hábitos sedentários e caminhaste os trilhos mais fáceis. Assim foi, nem tu dirás o contrário.
Blogaste muito. É bom, é mau? Responde a ti próprio. Mas perdoar-me-ás a ousadia de uma opinião. Que segue assim:
Há uma distância grande entre escrever e publicar. Isto, bem entendido, para quem faz da escrita modo de vida. E essa distância não é menor, no prisma de quem escreve, do que a que separa quem pensa e quem proclama coisas diversas, entre elas as suas letras. O que tudo nos leva a inquirir - porquê escrever?; porquê publicar?
A resposta - escrever para publicar - desde já te peço desculpa, não me serve. E dou as minhas razões: o excessivo peso do calendário, o tempo tirano que são os prazos e a subserviência ante os leitores.
Velhote: a ninguém tens de prestar contas...
Até porque neste envolvimento, não querendo ficar para trás, lá vens tu com mais uma crónica, entre tantas que melhor ficariam caladinhas na gaveta - a quantidade é inimiga da qualidade.
Já me falta a pachorra para alguma citação apropriada de um mestre. E não ignoro tu também não andas digerindo os mestres, simplesmente botas cá para fora, e seja o que os leitores gostarem.
Não, corta cerce. Torna à luz da vela e à velha caneta que, sem pressas, não borrata o papel. Escreve para ti. É sempre para nós que havemos de escrever. O mundo da escrita não é o dos publicitários.
Escreve, escreve, escreve. E de quando em vez, vindo a propósito, sai fora de portas e dá um ar da tua graça - publica.
Não vale isto dizer entres nas hostes monacais. Pelo contrário, tudo deves ler e até comentar. Mas a tua escrita é quase só tua. Guarda-a em bom papel e dá-lhe voz quando e se necessário.
Entendeste?
Entendeste que não ficarás prisioneiro do teu blog, que o hás de... deixar dormir? Para que durmas também sem pisares as boas obras em curso?
Eu sei que é complicado contrariar hábitos, vícios. Mas ganhas tu e todos ganharão com isso. Recuperaste da perna e, soube há pouco, mudaste de espingarda com resultados animadores. As canas de pesca esperam por ti e o tinteiro ancião também. Localizo exactamente o ponto em que vai o teu estudo em curso; e outros mais te pedem. Afinfa nos contos e não dês como perdido o romance. Chega-me nisso tudo com toda a força. Nem que não edites... - mas para que precisas editar mais?
Crê - não desprezes o conselho (agora já vou além da opinião...) e dá o privilégio à tinta permanente. Tão mais feliz serás!
Caça, pesca, viaja, lê e escreve... E dá notícias, a mim e aos teus amigos - a quem desejarás também (tu, um perdido da cabeça) um Santo Natal, Festas muito felizes e um Ano Novo repleto do lugar-comum das "muitas prosperidades". De imensa Paz, enfim.
Não sejas tolo, olha o que te digo. Com este natalício abraço, velho amigo e no velho modo
Criado de V. Ex.cia sempre atento e obrigado,
JAM