Desafio 52 semanas - 51|Um tempo de saudade
São sobretudo uns dias em que a saudade pesa mais. O Natal multiplica evocações que rondam muito a Família e não dão paz aos Avós e aos Pais, que já partiram, e mesmo aos filhos desde que cresceram e abraçaram o mundo.
Não nego, foi difícil aprender a lidar com a saudade. Com essa malandra a puxar-me para a solidão com todos os picos do solitário. Mas fiz-lhe frente, tercei armas e firmei a minha posição de simplesmente sozinho. E razoavelmente observador.
Vai daí, arranquei ainda ao Natal o entretenimento de quem espreita a rua e as suas decorações, a música e o comércio, a movimentação das gentes. Ao ponto de descobrir algum calor nessas frias tardes de Dezembro pré-natalício. Desde que não me defronte com o famigerado burguesismo do Pai Natal, desde que não ouça tantos e tantos repetindo o horroroso Ho-Ho-Ho da figura, lembrança mortífera de outros tempos povoados de cabeças ocas.
Portanto, à distância dos consumismos vãos e ainda perto do presépio simples, sem o aparato das bolas, luzes e música chinesa no pinheiro. Chegará então a hora da consoada, vêm sempre bocados da Família ao bacalhau cozido e às rabanadas, irmãos, sobrinhos e por regra o filho mais novo. Entre todas essas coisas boas, cá dentro a saudade permanece sangrando baixinho.
E pronto - o dia seguinte traz a calmia, um ou outro livro novo..., a mais latente proximidade do ano que está a chegar... e incontáveis fatias de bolo-rei, o melhor do mundo.
(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)