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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

A 24 de Janeiro

João-Afonso Machado, 24.01.22

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Abri ao calhas um livro do Cardeal Tolentino de Mendonça como se soltasse uma rolha da garrafa de espumante: certo de que acertaria na mouche. E foi deste jeito - «(...) há um dia reservado para o chamado "tempo do deserto". Estamos habituados a pensar no deserto como um lugar, mas pode bem ser um tempo».

E deixei-me por aí. Por esse deserto de compreensão e estímulo e afecto. Onde pára a minha Mãe? Os seus 93 anos seriam hoje, em instantes vagos, carecidos de palavras suas, um dito antigo e controverso, talvez uma discussão nossa - a Mãe sempre dogmática, eu de todo mais pragmático - tanta certeza versus tanta maluquice...

Ficará para a altura devida o instante da leitura de T. de Mendonça, desse livro que aguarda a finalização de outros que leio. Mas é o «deserto do tempo» que me tolhe quando chamo em mente a Mãe, e a Mãe responde-me aos neurónios, na memória, numa pouco suportável ausência fisica. Resta-me o hábito e a aceitação. E uma forçada, mas fiel, comemoração dos seus anos no «deserto do lugar» porque ao outro volto as costas e piso, faço por pisar, o inferior destino do tempo, o relógio e o contra-relógio da vida.

(A Mãe gostaria: numa página aberta simplesmente assim, a Verdade estava lá toda explicada, obra e querer de Deus!...)

 

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