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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

À luz da vela

João-Afonso Machado, 01.11.22

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Não sei se é influência das muitas que tremelicam hoje sobre a memória dos nossos que já foram. Ocorre-me o efeito da cera a derreter e a luz circunscrita, concentrada em uma ideia qualquer. Em redor a escuridão é abstracção, seguramente a ausência de muita gente.

A caneta prossegue neste dia de afirmação da Eternidade. Haverá alguma razão especial para que ela vá além da escuridão? E porquê a correr, como se fosse apanhar o autocarro, como se o autocarro cumprisse fielmente o seu horário?

O Outono é inocultável, sendo jamais uma estação exuberante... Sei, sinto, algo está para mudar. O tinteiro esmoreceu emparceirado com a vela esquecida. Mas ainda lhe restam algumas forças.

Seguramente para um beijo àqueles com quem sonho todos os dias. E para honrar compromissos pendentes, ir transmitindo disposições de última vontade.

Parece ser a morte uma obsessão, mais a mais hoje. Não é. Somente a caneta reclama liberdade, recato e resmas e resmas de papel.

 

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