À luz da vela
Não sei se é influência das muitas que tremelicam hoje sobre a memória dos nossos que já foram. Ocorre-me o efeito da cera a derreter e a luz circunscrita, concentrada em uma ideia qualquer. Em redor a escuridão é abstracção, seguramente a ausência de muita gente.
A caneta prossegue neste dia de afirmação da Eternidade. Haverá alguma razão especial para que ela vá além da escuridão? E porquê a correr, como se fosse apanhar o autocarro, como se o autocarro cumprisse fielmente o seu horário?
O Outono é inocultável, sendo jamais uma estação exuberante... Sei, sinto, algo está para mudar. O tinteiro esmoreceu emparceirado com a vela esquecida. Mas ainda lhe restam algumas forças.
Seguramente para um beijo àqueles com quem sonho todos os dias. E para honrar compromissos pendentes, ir transmitindo disposições de última vontade.
Parece ser a morte uma obsessão, mais a mais hoje. Não é. Somente a caneta reclama liberdade, recato e resmas e resmas de papel.