Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

A preto e branco

João-Afonso Machado, 10.11.22

PRETO BRANCO.JPG

Da vilória do Sr. Prudêncio não guarda o mapa vestígios. Sabemo-lo apenas do Interior serrano e, não obstante esse seu berço, um homem franzino e tremendamente friorento. Ainda assim com as forças bastantes para escapar às garras que a pneumónica lhe lançou, era ele rapazito novo. Se calhar por isso não foi à tropa...

Os nossos mapas são prenhes em cores orográficas povoadas de histórias de lobos e de assaz pouca gente. Não longe dali resfolega o comboio ralo, vagaroso e sonolento, e o Sr. Prudêncio bem se recorda e gosta de contar as obras da estação e a vinda d'El-Rei a inaugurá-la. (A ser verdade o que ele conta, Sua Magestade a Rainha atentara no menino Prudêncio e pespegara-lhe um beijinho na face.) Em dia de estrear calção e casaqueta festiva, já engravatadinho, que posses, graças a Deus, foram sempre sobrando, o estabelecimento de linhas e retrozes é o mais afamado nas redondezas.

O seu falecido Paizinho deixou-lho por herança. Ao Sr. Prudêncio ainda se ofuscam os olhos com o brilho metálico da caixa registadora então chegada, o seu trrrriiiim após o rodar da manivela e a a gaveta a abrir com as notas e moedas muito arrumadinhas em compartimentos. Já vai nos oitentas, o Sr. Prudêncio, quase todos eles passados no lado de dentro do balcão de madeira. Com os óculos na ponta do nariz em minudências de botões.

 

17 comentários

Comentar post