A vaguear pelos Açores (I) - Com o Major Alvega
É em brinquedos da SATA que nos deslocamos entre as ilhas do arquipélago, não sendo embarcadiços. Cada um desses besouros levará uns trinta passageiros e é um gosto vê-los prepararem-se para descolar. Os motores acordam, as hélices dão de si e o movimento começa por ser sobretudo auditivo. Mas, pouco a pouco, a sua aceleração produz um risco negro vertical, é o que resta daquelas pás, as rodinhas do passarão mexem-se, mexem-se mais, mexem-se a cavalgar, correm a pista e a traquitana, enfim, levanta voo.
Nada como ir à janela e observar toda esta maquinação. Seguiremos a baixa altitude, a ponta do Pico à vista e o mini a roncar como um Spitfire. O comissário de bordo, manifestamente cansado destes vaivéns, sentado numa banqueta, de súbito corre o cortinado. Eu espreito: alambuza-se com um iogurte a que mistura não sei o quê. Chupa os dedos, dando a impressão - houvesse um segundo, marcharia também... A copa é exígua e a "porta" fecha mal, não oculta a gulodice do comissário...
A viagem vale menos de meia hora. Na célere descida, as ilhas tornam-se cada vez mais nítidas (é o coração do grupo central açoreano), traçadas à régua nos pastos, senão medidas em metros de altura nos pedregulhos. E nestes a ondulação bate forte, pergunto-me se não teremos desviado para o Canal da Mancha. Com o Major Jaime Eduardo de Cook e Alvega, herói luso-britânico da Guerra Mundial, herói da revista Falcão, memorável personagem desaparecida, um fantasma sem dar a cara, enfiado na cabine, metralhando os seus sonhos e os nossos, não há apresentações, apenas o mais bravio dos Açores, finalmente.