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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Alhandra, "a toureira"

João-Afonso Machado, 27.05.22

Foi o nunca esquecer esse trecho das Viagens na Minha Terra, de Garret, indo o barco a subir o Tejo - «já passámos Alhandra a toureira»... Como eu mesmo a raspei, quer por cima, na auto-estrada, quer mais junto ao rio, de comboio. Sem outra leitura que não fosse o colosso fabril cimenteiro, talvez o seu pão, inquestionavelmente a sua sombra, o abraço enorme que a abafa.

Mas deu-me para a conhecer nesse sufoco onde, era certo, não encontrei nem toiros nem aficion. A Praça 7 de Maio, a principal, assistiu recentemente ao regresso do pelourinho a recordar os velhos tempos em que Alhandra era concelho e não apenas uma freguesia do de Vila Franca de Xira.

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Escassa é a gente por ali. E agradável e sadio o edifício da Junta, no outro extremo da praça. Eram horas de almoço, a fome bateu-me à porta, mas às segundas-feiras quase todos os restaurantes folgam. Despachei-me com um frango de churrasco e segui pela Avenida Dr. Sousa Martins em direcção ao Tejo. Na quina, a casa onde nasceu este venerado "médico dos pobres", agora museu e vagar de um punhado de idosos.

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Os encómios à pessoa do Dr. Sousa Martins precipitaram-se de enxurro. Farmacêutico, licenciou-se depois em Medicina e dedicou-se ao flagelo da tuberculose, doença que tomou conta dele e o levaria ao suicídio em 1895. Mas toda a sua vida lhe valeu a grande medalha, a maior, - o não esquecimento pelas gentes.

Outro que ali viveu, em Alhandra, e trabalhou e morreu, foi Soeiro Pereira Gomes, um dos progenitores do neo-realismo. Esteiros, a obra que dedicou aos «filhos dos homens que nunca foram meninos», escreveu-a inspirado nos lamaçais do Tejo, no grande mouchão defronte, fértil pasto, traiçoeiro levante das águas. Assim o vi e fotografei, mais o vaivém das embarcações

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com a ponte de Vila Franca de Xira ondeando a montante.

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Não me demorei muito nesta volta por Alhandra. Solidarizei-me com o isolamento da Matriz, toda ao sol num ermo mais alto

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e procurei ângulos onde o demónio da fábrica de cimento não me ferisse a vista.

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Tão dificil empreitada que, desconfio, o comboio me foi buscar mais depressa

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para o retorno através dos mistérios ainda por decifrar da Grande Lisboa. Quão longe estamos de Garrett e de Alhandra «a toureira»!

 

2 comentários

  • Tem lá uns restaurantes que prometem boas fritadas...
    Bom fim de semana.
    Beijinho
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