Arcos de Valdevez
Começo com aves. Já quase encostado a Espanha, no coração do Alto Minho, onde a gaivota chegou na prudente quantidade que não a transforma numa praga.
Apenas, como a garça real, mais uma comensal ribeirinha do Vez, decerto o mais bucólico e atraente rio da provincia.
Um afluente do Lima. Pimponeando-se no arvoredo das suas margens, a pega rabuda contará o resto do dia.
A vila dos Arcos de Valdevez, sede concelhia, deixando de lado origens e episódios antiquíssimos, foi o palco do célebre torneio de 1141 em que se confrontaram cavaleiros portucalenses e leoneses, com inquestionável vitória daqueles.
Assim ficou aberto o corredor para o tratado de Zamora (1143), marcante da Fundação do Reino de Portugal. "Arcos de Valdevez, Onde Portugal se Fez" - é a frase-símbolo local. Mas as margens do rio ainda chamam por nós, chamarão sempre. A montante não haverá barragens nem a obesidade mórbida das albufeiras a matar-lhe a saúde. Aos pés da vila, a ponte antiga
aponta ao "cruzeiro dos milagres" e ao hotel que é o seu pano de fundo.
O rio são águas transparentes, ilhas, voltas caprichosas, vegetação e pontões e pontinhas;
remansos e momentos furiosos; sol que aquece ou frescura que alivia; e muito peixinho, entre trutas e barbos.
Já a vila dos Arcos se pauta por uma serenidade quase inquietante. No seu alto, entre jardins
e arruamentos, o mundo deixou-nos em paz
E, se calhar envergonhada dos prédios e das urbanizações que vão atacando a periferia, presenteia os viajantes com as vistas do barroco da sua igreja da Misericórdia,
da Casa do Requeixo (agora um hotel de charme)
ou do ancestral e icónico Paço da Giela.
É o tempo das cores do Outono. Os Arcos vivem (mais ainda...) a sua quietude.
Só lá para Março, regressarão as canas de pesca: as tardes sobre as pontes ou nas margens, a conversa fiada, o gozo dos nativos no seu Vez...