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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Azpeitia (no País Basco)

João-Afonso Machado, 21.06.22

Comecemos em 1521, durante a invasão francesa de Navarra. Pamplona: o cerco previsivelmente bem sucedido não intimida o combatente Iñigo, basco indomesticável que convence o governador e os demais capitães da guerra a resistirem. Seria ele um dos primeiros a ficar ferido com gravidade em ambas as pernas. Lá à frente, vítima de um tiro de bombarda. Galhardamente, os triunfantes "gauleses" conduzem-no à sua terra - à Torre de Loyola em Azpeitia.

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Assim Iñigo teve pela frente todo o tempo para sofrer, suportar dores e cirurgias inimagináveis... e ler e pensar. Lentamente se lhe vão os ímpetos da espada e nele brota uma vontade de partir e de viver do espírito. Era a concepção da Companhia de Jesus, filha de Inácio, o Santo Inácio de Loyola. O transfigurado Iñigo.

Azpeitia é, por isso, antes de mais, a sua invocação. O Santuário setecentista em memória de Inácio, uma visão que eu quis permanecesse nocturna.

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Talvez como protesto contra uma das suas alas que empareda a reconstruída Torre de Loyola.

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Nunca tal conhecera: séculos de granito e história enjaulados, decerto num estertor claustrofóbico, pilhados de todos os ângulos possíveis de uma fotografia capaz. Sirva de atenuante a tal malfeitoria a grandiosidade da abóbada do Santuário

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e os espaços verdes circundantes que nos esfregaram frescura nesse dia em que o ar rebentava em 40ºC. Para lá - para o parque - se encaminhavam os visitantes - as freirinhas e

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nós - e a população local, um ribeirinho - um nada de água - flutuava nas imediações como qualquer tábua de salvação de náufragos ante as incognitudes oceânicas.

Nesse fundo cercado por serranias a encerrarem o calor todo, Iñigo-Inácio terá alcançado sinais do Céu postos na beleza da paisagem.

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Essa é a minha leitura, mesmo do que possa ser a oração e o conhecimento.

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Tolhido de um pé, todavia, corri através do forno de olhar nos cumes.

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a descobrir o rio, a casa que elegi a minha - a casa do meu sossego - porque sonhar não paga impostos nem taxas de registo predial

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e a correnteza ia gorda de barbos e escalos (Inácio pescaria também?), codornizes e galinhas de água.

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Não, afinal não fora ainda lançado às chamas do inferno...

A noite aproximava-se e Azpeitia convergia para a sua Plaza Central em busca de algum alívio, um fio de brisa deambulando naquele castigo. Também eu, no regresso da incursão pela zona antiga cidade, estafado, já quase sem pé (qual Iñigo...), ofereci-me a dois monumentais mergulhos em outras tantas canecas de cerveja sôfregas, fresquíssimas. Porque, creio, S. Inácio procederia de igual modo.

 

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