Brito (Guimarães)
Viagem muito longa no tempo, quão curta no espaço. A uns poucos quilómetros somente dos meus quarteis e tendo como objectivo cirúrgico a pousada de primos, casa onde algumas pingas de sangue meu ainda não terão secado. Na freguesia de Brito do concelho de Guimarães.
Trazia saudades e o absoluto desconhecimento de como chegar lá, proeza sem frutos mas já antes tentada. É a catadupa dos prédios, a elevada sinistralidade paisagística e mais desgraças conformes. Tornou-se necessário ser conduzido da estrada nacional ao meu destino - Pedra Furada - atrás da carripana que me esperava, sob um calor que não nos pertence e é-nos imposto por um mundo maior do que as regras mandam. Ainda assim - gratias Deo - sem que a nossa província não pingue água
nem deixe de a acumular, empoçada, guardada de verde e de rãs e peixes a chamarem as garças na época delas.
E lá revi uma cadela da minha criação, de idade avançada tanto que não me reconheceu. Somente comentei, a propósito, com um primo, - Já não tenho idade para perdigueirar, estou mais para jogar a bisca nos bancos públicos da terra...
É claro, ouvi uma resposta simpática, entusiasta e branqueadora. E simpáticamente, entusiasticamente, fomos para a mesa branqueada, outro lugar de eleição nos terraços minhotos.
Aconteceu por então o fumo subiu além do monte em frente. Vi-o, chamei a atenção e lá tentei acalmar as hostes, o incêndio era longe, ali nada havia a recear.
À hora certa debandei e apanhei imagens como se trouxesse comigo uma rede de borboletas
através de ribeirinhos a caminho do Ave, somando as pedras perdidas por razões que não são as minhas. Mas com a inabalável fé de onde houver granito e água corrente nunca a vida se deixará abafar e o futuro há de repescar esse abandono de nós mesmos.
Só faltava a derradeira passagem pela Ponte de Brito, já nos límitrofes da freguesia.
Para recordar pescarias transparentes em lugares pródigos de escalos e barbos. Deu neles (no Ave) o arco-íris das tinturarias (vá lá saber-se porquê, embirro agora de todo o jeito e feitio com os arco-íris...), e desisti dessas andanças por ali quando oferecia do melhor isco a uns peixes moles, sem nervo nem apetite, de cores doentes, apostaria que sofrendo de hepatite. A vida é isto, é uma vida estragada por um planeta fumegante de gente em demasia. Não fora assim, não chegaria ao meu rincão com os bombeiros na estrada e as bouças vizinhas ardidas, o fogo já cavalgando as nossas...