Desafio 52 semanas -13|Tempo perdido...
O coração há de ter várias camadas, tal qual o planeta que, dizem, no seu núcleo é todo fogo. Pois este nosso músculo requer cuidadíssima atenção, dada a sua ambígua aptidão para nos pregar mortais partidas e construir a nossa felicidade.
Colesteróis à parte, a viagem ao centro do coração (quase uma ficção à Júlio Verne) vai-se cavando da simpatia aos graus diversos da amizade, até alcançar o raramente verdadeiro amor, lá bem no âmago de uma existência pronta a aliar-se a outra congénere, permanecendo ambas tão juntas quão independentes
Quem o conseguiu já com êxito pleno? Vivendo esse eterno fogo nuclear?
Falando apenas de mim (aliás, este é um domínio em que jamais falo dos - ou aconselho os - outros), para se dar o milagre, uma primeira exigência é que se tratasse de alguém que não teorizasse sobre o amor. E a seguinte recomendaria não se aventurasse em terrenos de chico-espertice, nem confundisse a sabichonice com a erudição. Que fosse mulher, evidentemente, iscando o seu anzol com a voz e o olhar. A captura do meu coração consumar-se-ia, então, com a sua arte culinária, rica mas despretensiosa.
Ora, é bom de ver, esta minha douta prelecção tem todas as pompas das minhas exéquias amorosas. O meu coração é, por conseguinte, imprestável e, ainda que estivesse disponível, nenhuma senhora o quereria...
(A não ser Dona Mécia, mas ela é quadrúpede, de uma meiguice extrema e um belo falar ladrado.)
(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)