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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Desafio 52 semanas - 25|Pacotinhos de inspiração

João-Afonso Machado, 20.06.22

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Digamos simplesmente a única fonte minha de inspiração sou eu próprio. Isto no monte às perdizes, como toda a gente entendeu: nesses amanheceres às vezes precedidos de jantares excessivos e noites mal dormidas, levantares contrariados, disparos vesgos e sermões aos cães; ou nos empolgantes nasceres do sol, com pernas rijas e andarilhas, as mãos a correrem a arma, o tiro, o cobro pelo canídeo auxiliar... - instantes de plenitude, diante nós o mais vasto e agradável horizonte e a máquina fotográfica (espingarda ao ombro), quando o cinto estiver já bonito, bem composto. Caçar é um estado de espírito, - sempre sentenciei aos meus amigos e parceiros que mediam as minhas oscilações de resultados em tais lides.

E, vendo bem, todos os nossos actos consubstanciam também o estado em que se nos revolve o espírito. Como, por exemplo, aquele que me impele da cama às seis matinais e jorrar páginas de escrita no silêncio circundante, até voltar a adormecer em contramão nos horários corriqueiros.

Por isso, em geral, eu sou o que sinto, e uma bonita senhora essa mesma impressão que me causou. Quem diz a bonita senhora, diz esta ou aquela incursão por aí, a forma peculiar como captei as minhas imagens porventura em dia atento e inspirado - em dia sim.

Só eu interfiro comigo, para o bem ou para o mal. O meu trato com as palavras faz-se decorrentemente. A lembrar-me Heine - «Le coeur du poéte est le point central du monde» - dando-se o caso de não ser pretensiosa a insinuação de nesta casa se passearem alguns laivos de poesia.

 

(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)

 

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