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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Desafio 52 semanas - 29|Pelas minorias...

João-Afonso Machado, 18.07.22

VICENTE - COBRA.jpg

Andamos, é claro, entre montes e a quinta e aqui por casa onde, a bem dizer, os cães e os gatos são família também. A bicheza é muita, no céu e na terra, velocíssima ou pachorrenta. Quase só as cobras se escapam ao nosso olhar. E eu gosto delas.

Gosto pelo mistério dos seus dias amaldiçoados desde as primeiras páginas do Génesis; e gosto daquela expressão parada e fria, de todo indiferente a quaisquer sentimentos, e, acima do mais, do terror que incutem e da plausivel hipótese de dar com uma na esquina do corredor ou no postigo da cozinha.

Ou seja: as cobras são uma lenda viva. Atemorizam e repelem e até dão umas ferradelas. Não nego lhes guarde um certo respeito. Mas a questão é essa: a quebra dos mitos e o nosso autodomínio.

Assim o meu Pai ensinou, e eu ensinei os meus filhos, a apanhá-las. A gente põe-lhes a bota na cabeça e segura-as pela pontinha da cauda. Nunca mais o bicho nos alcançará os dedos. Depois há de se cansar, deixa de rabiar e algumas espécies até aceitam a nossa companhia. Sempre com a língua cá fora, deslizam-nos pelas mãos e os juvenis não se dão mal no aconchego dos bolsos de umas calças mais folgadas.

É o tempo de gozar a beleza das suas cores. E de perceber, sem gritaria, que a Natureza está aí - mandíbulas, garras e veneno à parte - para desfrutarmos dela.

 

(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)

 

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