Desafio 52 semanas - 40|A dolorosa lição
O carnaval dos meus 17 anos foi particularmente animado e excitado. Houve "assaltos" todos os dias, beberam-se litros e litros de cerveja e eu escolhi, para bombo de festa (ou seja, para alvo do meu exibicionismo), um tipo alentado, tanto quanto timido e pacato.
Mas a coisa chegou a um extremo tal que no derradeiro bailarico, após mais uma tropelia minha, o dito eleito levantou-se e espetou-me um bem medido murro na boca. Nesse mesmo instante a electricidade foi abaixo e nem cheguei a ver os efeitos da pancada. Engalfinhados, a rapaziada às escuras a separar, a ter mão em mim, e depois olhando-me atónita, quando a luz voltou.
Um lanho enorme separava o meu beiço inferior em dois. Segui de imediato para o hospital, fui suturado (6 pontos) e vivi quinze dias no maior incómodo.Tratara-se de uma luta leal, sem paulada nem garrafada, e eu perdera. O meu rival, muitos anos depois, quando nos deixou uma pessoa especialmente próxima, veio ter comigo e pediu licença para me dar o enorme abraço que lhe dei também.
De tudo ficou, então, a lição que aprendi do modo mais doloroso e humilhante - mas eficaz. Porque aprendi mesmo quão estúpidas são a euforia e a ostentação. Como é melhor só falar no fim e preferir o condicional ao imperativo.
E creio ter captado tão bem a lição que mesmo a minha escrita - o jeito por excelência de me exprimir - sai por vezes chorosa ou irónica, memorialista ou fantasista, redonda ou vectorizada. Mas - penso - jamais exuberante.
(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)