Desafio 52 semanas -8|Jantar no Oh! Vargas
Iamos chegando a Santarém, o ponto de encontro ficou determinado no restaurante Oh! Vargas. Há sempre um responsável por este lado gastronómico, alguém absolutamente fiável ao longo destes anos todos de faisões e tiros. A gente, muita, eles e elas, os mais novos e os mais velhos e a memória dos que já não estão entre nós conjugada com a esperança nos que vão surgindo agora. Tudo numa agridoce sensação do tempo e de afectos, trinta ou quarenta anos que já não sabemos se doem ou se confortam.
Não tenho "amigos do coração" - apenas um coração preenchido pelos amigos. Por isso, provavelmente, o Oh! Vargas foi, para mim, um jantar inteiro de silêncio e recordações, ouvindo e observando, sorrindo ou lacrimejando para dentro. Com a naturalidade exacta de quem não se sente obrigado a conversar para "fazer sala".
Gostei da decoração e da enorme divisão por nossa conta, o poiso habitual dos forcados escalabitanos em noites de farra. Eles e as suas façanhas preenchem as fotografias que fui analisando uma a uma. Isto a propósito de, nesse grupo dos meus amigos, haver quem goste e quem não goste de tauromaquia. E esta ser tema de conversa e argumentos contra ou a favor, nunca, porém, de discussões e irredutibilidades. Invocar a educação das pessoas parece-me dispiciendo: prefiro frisar o entrosamento do clã.
Vimos de muitas bandas, sobretudo do Minho. Há-os sociáveis q.b., de encontros semanais; e há-os nos refúgios respectivos, o meu caso, sem que assim se ponha em causa esse espírito em que já os nossos ancestrais viviam entre si.
(Tanta criança cujo crescimento presenciei, hoje casada e com prole já...)
E nada descubro para ensinar ao mundo. Apenas sublinho que nesse comedidamente povoado mundo em que nos movimentamos, a amizade é uma cordilheira, não somente umas pedritas que se encontram e juntas decidem defender-se da erosão.
(Desafios da Abelha - https://rainyday.blogs.sapo.pt/52-semanas-de-2022-introducao-392169)