Esta sexta
Gosto do mistério dos dias assim, acordando a jejuar dizeres e em andares nos bicos dos pés. Sem que a gente perceba exactamente porquê, apenas sentindo no ar o recato e o peso crescente da angústia toda do início da tarde. O dia mais arroxeado do ano. Assinalado por cruzes tão mudas quanto a morte que os tambores anunciarão logo à noite compassada, tetricamente.
Alguém morreu, pois, decerto nesta sexta-feira diferente dos mais dias somados. E por isso esta carestia de gestos e palavras, as vozes bichanando pela cidade inteira.
Talvez o domingo próximo faça alguma luz em cima de tal breu, de repente perfurado pelo lancinante cornetim do bombeiro que - antes da ceia - marcha ao centro na avenida.