História de uma luxemburguesa entre nós
Chegou há cerca de dois anos, em qualquer manhã menos amável troando ensurdecedora no aeroporto. Vinha do pacato Luxemburgo, o mais certo terá sido o susto enorme, o pavor da solidão e de que nem o papel consigo a ajudasse a encarreirar no seu destino.
Tal não sucedeu, felizmente. Mas foi numa aflição de fraqueza, fome e sede, ainda atarantada, que o seu novo tutor a viu chegar. Logo lhe deitou a mão e a conduziu aos seus aposentos. E por perto foi permanecendo, com o tempo a passar e ela sempre acamada, encolhida e apática, um olhar fechado e mudo, indiferente os dias todos do ano.
Morreria?! - assustou-se o tutor. Tão longa viagem e tão inglório fim!... Seriam talvez as saudades, este nosso clima mais irrequieto... E sobre dar-lhe água, às goladas, vai de chamar o maior mago da região, homem de insondáveis feitiços e façanhas. - Mestre Eduardo, salve-me a menina, pela alma de quem lá tem! Pobre doente, não é sorte que mereça... - Pois fique descansado... - Olhe que bem gostaria de a ver feliz, mãe e avó...
O Mestre Eduardo afeiçoou-se à criaturinha, e nela depositou todos os seus saberes transcendentais. Mais lhe tratou da pele e a sangrou, deu-lhe da sua botelha de elixir da juventude.
E ela floresceu, ganhou rosadas cores, deixou-se abraçar pelo tutor, já de pé, prometendo tamanho e beleza, a minha Rosa, a quem estou para contar do seu remetente do Luxemburgo, honra nossa, honra dela, cortesia da Coroa.