Hotel Ruína*****
Venho de parte nenhuma mas já descansava os pés e as costas tão enferrujadas da chuva. O dia hoje é de sol, decerto de boa colheita no estacionamento dos carros, a verdade, porém, é que aproveitei o frio nocturno para viajar... Até tomei o pequeno-almoço num self-service de berma do passeio, estabelecimento verde acaixotado, umas excelentes fatias de pão de anteontem.
Agora, o repouso. Ena!, ena!, grandes inovações no jardim aqui do hotel... Podaram os cactos, os picos, podaram as silveiras, desenharam arte junto da entrada principal! Isto presta-se a uma bela sorna na varanda do meu quarto!
(Gosto destes hoteis modernos, sem check-in nem check-out, sem recepção nem horários.)
E o meu quarto habitual livre, sorte a minha, não fizera reserva. Naquele cantinho, cama baixa e colchão de cartão, o espaço todo para a minha sacola e os andrajos que carrego comigo. Houvesse alguém por aí, - mas a esta hora... - sempre lhe pediria lume, a minha provisão de piriscas é farta. E talvez mesmo uma voltinha no picadeiro, meia dose fiada de cavalo a dançar-me os sentidos... Deve ser deste maldito covid, a clientela do hotel baixou para menos de metade. Oh turistas da vida, por onde vos refugiais?
(Gosto deste hoteis modernos, cultivando o ambiente, enxameados de latas de conserva abertas e vazias...)
Os medos, esses fantasmas, onde estais?, decerto sem lareira, sem uns pauzitos apanhados cá fora, o fogo colorido e as paredes mantidas negras do fumo, como no charme das aldeias.
Bom, vamos mas é ao descanso. De caminho dá-me a fome da ressaca, arranco cedo amanhã. Uma só passagem antes pelo toillete...
(Gosto destes hoteis modernos com toilletes comunitários: mais acessíveis e facilmente localizáveis, basta seguir a correnteza do cheiro.)