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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

Mes amis portugais

João-Afonso Machado, 24.11.21

GRAND HOTEL CRAVAT.JPG

O Grand Hotel Cravat, no Luxemburgo, foi-me recomendado por pessoa de inquestionável confiança. Edíficio sobejamente idoso, bem situado, expandindo as suas convexidades numa volta ampla do passeio... e sem cerimónia nos preços das estadias, diga-se também. Mas nele decidi pernoitar nesse país-cidade-país em que abundam portugueses emigrados.

Conheci-os logo - três - à chegada ao hotel, carregando nem reparei o quê. Aliás, foram eles que deram comigo na recepção, - É português?! - Pois sou, de onde são vocês?

Eram todos da Figueira da Foz. E esse primeiro encontro com compatriotas ficou por aí, o funcionário ao balcão irrepreensivelmente vestido (de feições muito a lembrar o Saramago) - Monsieur, votre carte s'il vous plait; merci monsieur; alors, votre certificat covid; trés bien, merci monsieur; bonsoir monsieur; monsieur, un bon séjour au Luxembourg. - Educadíssimo!

Eu tratara da reserva pelo telefone. E, não fosse o diabo tecê-las, pedi chamassem um português, conversa clara, sem espinhas. Nem mais do que o Sr. Ronaldo. Conheci-o pessoalmente já no hotel, no seu turno do déjeuner, e conversámos mais demoradamente. Adivinhei pelo sotaque, era de Vila Real de Trás-os-Montes. E nem todos os anos vinha à terra - também se reservava o direito de viajar pelo mundo no seu Agosto de férias. Viria o tempo do regresso, definitivo e de aforro bem conseguido. Era novo ainda...

Ainda mais novo, o Hugo, empregado de mesa no Beim Lentz: um restaurante simpático e sossegado, onde se comiam coisas leves e se bebia boa cerveja. O Hugo, magrito e tatuado, era da Nazaré. Lá lhe expliquei, tinha raizes na Pederneira, e isso foi o bastante para ele perceber que conhecia o mapa do Oeste. Ainda adiantei S. Martinho do Porto, ele cobriu a parada com Peniche, eu entrei nos detalhes do Cabo Carvoeiro, da Nau dos Corvos... Da Berlenga, incontornavelmente. Onde o Hugo já não ia há meia duzia de anos.

Mas tinha ainda muitas e muitas voltas solares pela frente. Por ora, o pé-de-meia. Pensando em pouco mais. Chegara, entretanto, a sexta-feira. Os luxemburgueses convergiam para os lugares de animação, o Natal já está no ar. A noite prometia, carregada de movimento - de lazer, para os outros; de trabalho para os portugueses...