No rio Vizela aos barbos (com batata frita)
É uma prática habitual, chegando a águas fluviais desconhecidas, uma mirada (- Boas tardes, então isso sai?... -) nos pescadores locais e deles a colheita dos apontamentos próprios sobre as especificidades do rio, só para não ter de inventar.
Em Vizela, por exemplo, os barbos - e há-os grandalhões! - gostam de batata frita. Claro, não da batata frita de pacote. Antes da batata frita em palitos, aquela que usualmente acompanha o bife e o ovo respectivo a cavalo.
Confrontado com tal realidade, saudoso de pescarias e dos barbos, urgia recorrer à cozinha do hotel e humildemente esmolar um punhadinho de batatas fritas. Logo o atenciosíssimo pessoal de serviço (um deles andara no alto mar à pesca) prometeu para o dia seguinte frescas, cheirosas e... crocantes batatas fritas, para melhor se segurarem no anzol.
Assim foi e, pelo meio da tarde seguinte, não sem uma pontinha de emoção e as batatinhas num saco (acomodadas em guardanapo de papel), a cana telescópica truteira (4 metros) tornou à luz do dia, atrelou o Mitchell - o rei dos carretos, uma maravilha, - uma boiazita pequena e um anzol mínimo e lançou-se nas águas corredouras do Vizela. Com uma lasquinha de batata frita no pico afiado onde o peixe se perde quando abre a boca.
O curso aquático estreitava entre duas pedras grandes, o caudal acelerava e precipitava-se, a profundidade era pouca. Mas, afiançavam os nativos, os barbos andavam ali.
Uma insistente ruptura dos ligamentos no pé direito ajudou muito pouco. O trambolhão na margem esteve iminente, não fora o tronco de árvore e o braço esquerdo agarrado a ele com desespero. Sucederam-se os lançamentos, a boia em rafting alucinante nos rápidos ribeirinhos, sossegando depois, já na zona onde o peixe era espectável. E quando ela afundou, parecia um torpedo, nada a enganar: o esticão, o nylon tenso, o peixe a rabiar já preso ao anzol escondido na batata frita. Era uma boga de dimensões consideráveis.
O mal estava todo no pé cansado e já dorido. A perturbar a pontaria nos lançamentos e o vaivém à saquinha das batatas fritas quando o peixe, mais lesto, roubava o isco sem se ferrar. Ainda assim não demorou outra boga, esta mais pequenota.
Por fim, o pedaço feliz da abençoada batata frita. Bem cravada no anzol e a linha no sítio ideal do troço de rio, já o sol fugia a escurecer as águas. O toque na boia foi firme. O esticão também. Havia força do lado de lá, num instante a cana dobrou a ponteira e o peixe circuitou contra a corrente procurando refúgio na margem. Trabalhou a manivela do Mitchell e o bicho veio a riba. Era um benquisto barbo, ainda jovenzito.
Retrato tirado, foi devolvido à vida. O pé direito doía que se fartava. Assim sendo... ficou o registo e o desejo enorme da próxima Primavera.