O dia dos Nossos
Mesmo em terras caiadas, das mais quedas no silêncio, eu creio ser dia de todos os portugueses em romagem. É a data dos Fieis Defuntos, melhor diria dos fieis aos defuntos - nós, ainda vestidos pelo nosso corpo, lembrando os que já o deixaram e jazem descansando.
Vamos dos granitos para os calcários e os mármores, País fora, neste momento de colorir a Morte, ou de transformar as flores em ofertas à Eternidade. Se a Fé não chegar mais longe, aqueles de quem temos saudade sabem - já entre nós o sabiam - hoje estão em festa, a família acende-lhes as velas e engole cânticos do coração.
Somos assim. Podemos até ser, em tais sinais, de manifesto primarismo. Mas, em vez das lágrimas, rosas e enfeites; em vez da pedra fria, a companhia das vozes conformadas.
E em vez do terror, a perene sensação de presença.