O fogo tripeiro e joanino
Já lá vão os Santos Populares na pedalada de um dos mais velozes meses do calendário, este Junho de sardinhas e manjericos. E especialista em morteiros, um oficial superior de artilharia. Numa certa jantarada à beira-rio no Porto, absolutamente temerária, os obuses não se calaram durante uma meia-noite quase eterna.
Ninguém sabe como o cordeiro se mantém quieto nos braços de S. João. A cidade em polvorosa, parecendo uma embalagem de gente a rebentar pelas costuras e, um nada à margem, minhotos, transmontanos e durienses atónitos e sorrateiros apreciavam o cagarim dos tripeiros. Santo Deus!
Águas tintas, assombradas decerto pelo fantasma do desastre da ponte das barcas. No lugar dela, a de D. Luís, onde a guerra se incendiou. E na Arrábida o trânsito parara, indiferente às pressas de quem fosse, e gozava de cotovelos na amurada os efeitos todos do foguetório. Na margem de Gaia a mesma eufórica paralisia.
Assim não se ouviram os canhões, somente o colorido das detonações apontadas à escuridão. Os da Afurada encheram os depósitos dos motores dos seus barquitos e subiram e desceram o rio em fila indiana, sem perder pitada desta beligerância.
Um delírio circense de palmas sucedeu ao tremor sísmico da girândola final. Os minhotos, transmontanos e durienses tinham antevisto o apocalipse... Talvez agora conseguissem regressar ao vagar dos seus lares.
E depois do canhoneio, os meios aéreos. as muitas dezenas de balões levados pela chama, como um paraquedas que sobe em vez de cair. Consta ser este armamento proibido por qualquer convenção. Mas é S. João e não há legislador que tenha mão nos tripeiros então. Como os minhotos, transmontanos e durienses bem constataram.