O Hotel da Penha
Quem conhece Guimarães não se engana no caminho. O morro é grande, o teleférico não está quieto e no topo o santuário pica o céu e o Hotel da Penha mora um nada abaixo. É assim desde 1905, com longas filas de apreciadores da boa comida sempre a escalar as suas encostas.
Lá fomos, sequer nos ocorrendo reservar lugar nesta época de almoços de empresas e famílias. Um sábado... - é claro, de casa cheia! Irritante e barulhentamente cheia. E agora?
Valeram-nos os préstimos, a boa vontade do Sr. Helder Lopes, o gerente, e o improviso de uma salinha com mesa para dois. Ir ao Hotel da Penha significa saborear filetes de pescada com salada russa (ou arroz branco, em alternativa) porque não há no planeta outros assim.
Eu e a Luísa abancámos então à mesa. O serviço podia ser demorado, razão pela qual vieram à frente umas chamuças e uma garrafa de Quinta d'Ourega, o verde branco da casa. Boa pinga, bem tratada da ancestral acidez dos vinhos da região.
O pessoal atenciosíssimo. O responsável pela cozinha, Mestre Carlos Gouveia, também compareceu a saber de nós. Leva 30 anos de profissão iniciada na Armada portuguesa, onde laborou para centenares de marinheiros do Alfeite. O Sr. Gouveia é um misto de minhoto vimaranense e de coimbrão, mais identificado com aquela (esta) terra dos meus antepassados paternos.
Revi-os, os meus antepassados, em volta do castelo e do Paço Ducal. Revi toda a gente de Guimarães a que estou ligado, os seus passeios de sempre ao alto da Penha. E, contas feitas, os filetes afinal nada demoraram.
Não sou muito de adjectivos em apreciações culinárias... - Que tal Luisinha? - Óptimos!...
Estavam. Como sempre, desde sempre. Aquilo é manteiga de peixe a desfazer-se-nos na boca. E a salada russa cavalgava ao lado, no mesmo bem lançado ritmo. Com a gente da casa sempre ocorrendo, a inquirir se faltaria algo.
Não faltou. Trouxe comigo o penhorado agradecimento pelo atencioso serviço a meu pedido improvisado. Porque quando chegámos, eram já muitas dezenas de comensais lançados em idêntica voragem.
E rematei à boa maneira minhota com um leite-creme tostado pelo ferro quente no açúcar cimeiro. Os passeios dos meus, que Deus tem, só devem prosseguir connosco até tão acolhedor restaurante. Obrigadíssimo, Hotel da Penha!