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FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

FUGAS DO MEU TINTEIRO

Imagens e palavras de um mundo onde há menos gente

O mandarim "futebolês"

João-Afonso Machado, 27.09.21

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Um destes últimos sábados fui à bola. Jogava o glorioso F. C. Famalicão contra o Marítimo, e não estava no meu espírito o "nulo" resultado final. Santa paciência, valeu a pena, ainda assim, - bancadas a menos de meio pano (multidões não, obrigado), um belo assento em cadeira e o tempo muito dócil. E a máquina fotográfica com que registei o penalty evidente a favor do Famalicão. Negado, o árbitro deixou-o passar em claro.

Veio tudo abaixo. Silvaram os assobios, urrou-se e a assistência em meu redor, em redor do meu silêncio atento, irrompeu no futebolês mais puro e facilmente cognoscível.

Traduz-se então, nesse dialecto, um "filhodaputa" é o árbitro, quem quer ele seja. Outrossim, em entoação menos raivosa, "filhosdaputa" são os jogadores da equipa contrária. Frequentemente, sobre os "filhosdaputa" de apito na boca pesam acusações tremendas de práticas venais.

Tudo o mais é o termo plúrimo "putaquepariu". Dito com rancor, a comentar qualquer atitude dos "filhosdaputa"; em extase, sendo a jogada de fino recorte, esperta, habilidosa, fenomenal; desanimadamente, se os "filhosdaputa" ou os nossos se perdem em rodriguinhos; e há sempre um "putaquepariufodasse" emocionado, aliviado, talvez mesmo choroso, para os benquistos golos a decidir a vitória cá da gente.

Não muito frequentador da bola, vou aprendendo este umbricado dialecto mandarim, tão mais difícil de captar quanto é certo a minha visão do prélio poder não se identificar com a dos vizinhos na bancada.

Mas lá que o penalty nos foi roubado, isso foi. Portanto, o "filhodaputa" só podia ter ouvido um colérico "putaquepariu".

 

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