Pacotinhos de projectos
Repugna-me a conversa fiada, a mesa à qual se senta a retórica. Em suma, não nasci para a inacção.
Homem de projectos, então? Jamais. Onde há projectos há a minha inabilidade para o desenho. Compassos, réguas e esquadros são rigores que tropeçam uns nos outros e deles nada sai. Um estirador que não faz nem deixa fazer.... Ignoro como se manejam tais instrumentos e geralmente almoço sozinho. Isto é - comigo apenas, no tempo necessário para sonhar.
Sonho a dormir, sonho acordado, num manancial onde o mau perde para o agradável e o mundo assim opta pelo alcançável. De mochila feita ou de caneta em punho, eis - felizmente - os sonhos a ganharem corpo e o tiro de partida para a viagem de um pobre, ou para a escrita de um de menor valia. Explorando o pouco de que sou dotado, - mas realizando.
Realizando: abrindo as portas, aceitando em mim visões e limitações. O próximo sonho será mais amplo, porventura mais expressivas as imagens e a sua descrição. É um caminho, o da perfeição, sei bem, nunca com meta à vista.
Quedo - nem pelo preço mais elevado! O almoço seguinte será outro campo de visão.
Por isso, senhores projectistas ruminando mapas - "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". Assim Pessoa deu forte no atavismo, destronou o espírito burguês e proclamou o império da alma (perdida).