Pacotinhos sem vento
Há quem lhes chame também "pacotinhos de escorbuto", invocando as desesperantes vagas de calmaria oceânica, as caravelas estagnando ao sol. E o tempo dos alimentos a sumir, os citrinos ignorados no sossego das suas ramagens. Bocas em chaga, incapazes de deglutir e a marinhagem de antemão condenada.
É, o suminho de laranja quantas vezes substitui com vantagem a cerveja e o tabaco, a conversa pastosa. Não raro, o chorrilho imenso de disparates proclamados em gestos, e na eloquência dos grandes obreiros, simplesmente atiça caminhos ínvios de tempestade e morte...
As semanas passam, passam os meses e, sem ventos, os pacotinhos desfalecem como bigodinhos descuidados. E dormem um sono enganador, letal, que lhes rouba a percepção: afinal os ares tornaram a agitar-se, as velas enfunaram-se e a embarcação renascida chegou já ao destino.