Sábado
Mais hora, menos hora, aí está sábado a abrir os olhos ao dia. Conforme o hábito que vem fazendo seu, espreguiçar-se-á na cama e ficará a pensar neste Maio que, meio tonto, já anda aí.
Precavidamente o sábado matinal não ligará a televisão onde se ouvem apenas os canhões da moda primaveril das 24 horas sob fogo de guerra no leste europeu. (Essa moda global que triunfou em pleno, e reduziu a cinzas o monopólio noticioso da antecessora, a pandémica.)
E o inverno sem chuva, o Março um pouco mais choroso, a compensar, e esta meteorologia nem para trás, nem para a frente?
Sábado dará outra volta na cama sem descobrir respostas. Desapetecer-lhe-á a praia, talvez já no seu corridinho burguês, e sentirá nos ares o cheiro do estrume, o campo vai para as sementeiras. Maio. Mas um Maio invulgarmente triste e desamparado. Fátima? Mas Maio e Fátima são a multidão e o sábado prefere um meditar recolhido...
Dar-se-á conta sábado que é o primogénito deste Maio. O mais velho da série e talvez os sequentes tenham melhor sorte, se poupem à poeira na faina rural ou ainda viajem por lugares de dignidade e novidade. Quanto a ele, velhote pioneiro, restará a leitura, uma ida ao parque, que se o movimento for pouco ainda lhe cairá na câmara algum passarito ou a elegância em passos de ginástica... Ah! - e um futebolzito importante ao fim da tarde.
Sábado coça a barriga e ir-se-á então convencendo a levantar.